FILMES NA INTERNET
Dicas de tres filmes interessantes para assistir on-line


Softie (2020)
Documentário produzido no Quênia sobre o trabalho do fotojornalista Boniface Mwangi, apelidado de Softie, um jovem engajado na luta por justiça social de seu país. Ativista, perseguido pela polícia e pelo governo, Softie retrata por meio de suas lentes a violência política no Quênia – nos últimos 15 anos as ruas da capital, Nairobi, são constantemente tomadas por protesto contra o aumento de impostos e a concentração de renda. Centenas de manifestantes foram mortos na última década e outros tantos feridos nas mobilizações. O documentário, corajoso por natureza e que revela uma grave denúncia social, acompanha a vida de Softie não só na fotografia, mas quando decidiu concorrer às eleições regionais para o Parlamento, em 2017. Nesse percurso vivenciou um jogo sujo e perigoso ao enfrentar os poderosos para fazer uma campanha correta e ter o povo como aliado. Em 2019 foi preso por subversão e agitação popular. Gostei do filme, todo feito com imagens das ruas e depoimentos de Mwangi com sua visão de mundo. Escrito, dirigido, roteirizado e montado pelo cineasta queniano Sam Soko, que acompanhou Softie por cinco anos – ele realizou outros docs sobre a situação político-social em sua terra natal, como ‘Free money’ (2022). Disponível gratuitamente na plataforma Sesc Digital, em https://sesc.digital
Surto (2020)
Funcionário de um aeroporto de Londres enlouquece e entra numa espiral de autodestruição. Essa é a trama central desse thriller dramático, um tour-de-force do ator britânico Ben Whishaw, que costuma se desafiar em papeis complexos de assassinos e espiões – ele ficou conhecido como o protagonista sombrio de ‘Perfume: A história de um assassino’ (2006). Um personagem que vai do desespero ao caos e aos poucos vai enlouquecendo - com manias, ele é testado todo dia em situações-limite no aeroporto onde trabalha na revista de viajantes; ele um dia explode, briga no aeroporto, abandona o cargo e segue durante um dia inteiro perambulando pelas ruas, envolvendo-se em brigas e cometendo delitos - chega a ser espancado, visita os pais e lá uma notícia o abala, até atingir o ápice de uma jornada degradante. O filme se passa em 24h, nas ruas de Londres, na vida desse indivíduo complexo. Experimental, com câmera correndo e tremida, o filme usa e abusa de closes magníficos – eu gosto de filme assim, tem gente que não suporta. Selvagem, sujo, um filme que pulsa de forma vibrante. Exibido no Festival de Berlim, ganhou o prêmio de ator para Ben em Sundance. Esteve em exibição na plataforma Sesc Digital até semana passada.
Velas escarlates (1961)
Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES) lançou, há uns bons anos, dezenas de filmes soviéticos e russos em DVD e bluray, e durante a pandemia, um canal no Youtube onde semanalmente entra um longa-metragem cult gratuito para o público assistir. O título da semana passada foi esse nada conhecido ‘Velas escarlates’ – aliás, o cinema russo e soviético quase não foi visto ou lançado no Brasil, exceto clássicos de diretores famosos, como Sergei Eisenstein e Andrei Tarkovsky. ‘Velas escarlates’ é uma perola do cinema de aventura soviético, um tipo de cinema popular que existiu lá nos anos 60 e 70. É baseado num livro da década de 20 de Alexander Grin (1880-1932), ou A.S. Grin, escritor de romances com toques de fantasia, parte deles em viagens por alto-mar, como é o caso aqui. Na trama, a garota Assol encontra um velho mago que diz a ela que em breve se encontrará com um príncipe, com quem vai viver. Esse príncipe virá em um barco de velas escarlates. Enquanto ela aguarda, o jovem marinheiro Arthur, filho de um nobre cruel apartado do pai, chega no vilarejo em seu navio mercante, apaixonando-se por Assol. Aventura, romance, humor não faltam nessa preciosidade soviética, um filme com cara de ‘Sessão da Tarde’. O diretor é Aleksandr Ptushko (1900-1973), de ‘A lenda do rei Saltan’ (1967). Disponível no canal CPC-Umes no Youtube.


Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com

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