NINA DE PADUA: CARREIRA COROADA VIVENDO BETTE DAVIS NO TEATRO
Nina esta encenando a pe?a Bette Davis - Manual de Sobrevivencia, revisitando um ?cone do cinema Hollywoodiano


A atriz Nina de Pádua tem uma carreira linda, passando pela TV, teatro e cinema. Muito lembrada até hoje por seu personagem na clássica novela A Gata Comeu, Nina está encenando a peça Bette Davis - Manual de Sobrevivência, revisitando um ícone do cinema Hollywoodiano. Tive o prazer de conversar com Nina sobre sua carreira, seu atual momento e, claro sobre Bette Davis.
Adilson : Nina, você ingressa um panteão de nomes que valoriza as artes dramáticas e você tem uma carreira muito linda passando pelo teatro, cinema e TV. Vamos começar a falar dessa peça fantástica que você está agora encenando que é Bette Davis Manual de Sobrevivência onde você encarna esse grande nome do cinema Hollywoodiano que foi a atriz Bette Davis. O que que te encantou no texto quando pela primeira vez você teve contato com ele ?
Nina: Bom a Bette é sem dúvida alguma um ícone muito forte da cultura cinematográfica mundial. Ela é uma mulher que até hoje ainda se fala dela, sua figura é de uma mulher à frente do seu tempo, uma feminista ainda muito antes que o termo surgisse, uma pioneira que deixou uma história extraordinária, que lutou até os 80 e tantos anos de idade para sobreviver, se reinventou diante das câmeras quando foi preciso, então ela é um exemplo muito grande de ser humano e tem uma história incrível para ser contada. O Jau Sant’Angelo escreveu o texto por volta de 2010 e ele apresentou para um amigo dele e um diretor de São Paulo que também por acaso não me conhecia. Então, eu fico assim muito honrada porque esse texto veio parar na minha mão 15 anos depois. Acho que foi a Bette que me guiou até ele. O texto mostra como a Bette tinha um olhar realmente muito diferente das demais atrizes de sua geração.
Adilson: Você tem em seu olhar a capacidade de transmitir a emoção, algo que é essencial para atuação. Com todas as mudanças que nós tivemos de uns tempos para cá , principalmente na demanda para vocês atores no cinema, nos palcos e no streaming. Como você consegue transmitir a essência de uma personalidade tão complexa como era a Bette. Qual é a maneira de você aprofundar como personagem você segue um método, por exemplo como o de Stanislavski, ou é algum outra abordagem ?
Nina : Eu tenho uma trajetória bem peculiar eu diria, não sou uma atriz em evidência na mídia. Em 2019, eu fiz uma outra peça com Anselmo Vasconcelos e a gente mexeu muito com essa coisa de lembranças e me veio a lembrança de que eu não comecei aos seis anos, eu comecei aos três sendo a dona baratinha. Lembra da história do caldeirão? Bom, eu me lembro disso lá atrás, então o teatro, a arte de representar já está em mim desde cedo e foi uma coisa que depois eu fui aprendendo, eu fui lapidando, eu fui né me enriquecendo com outras vivências. Então eu tenho essa pretensão de dizer que eu tenho todos os personagens dentro de mim que está no meu DNA de alguma forma então quando ele se apresentam na minha vida como em uma novela, uma peça de teatro ou um filme para o cinema. Então não foi difícil para mim encontrar a Bette, pois a Bette me encontrou. Quando o Jack Warner mandou a Bette embora ela saiu dando cambalhota e fez do sucesso sua maior vingança. São 55 anos de carreira que tenho, e procuro me conectar com algo mais profundo que tem dentro de mim e busco exatamente essa fagulha a cada trabalho, nem sempre eu acerto, mas é sempre com muita emoção, com muita entrega e como com a minha verdade então acho que isso eu consigo algum resultado.
Adilson : Bette fez filmes maravilhosos com o A Carta (1936), Vitória Amarga (1939) e A Estranha Passageira (1942), além do fantástico A Malvada (1950). Ela sabia como mexer com a gente, sempre carregava muito no dramático. Foi uma entrega desgastante, você ter representá-la, foi fácil ou difícil entrar e sair de uma personagem tão intensa quanto ela ?
Nina: Olha, eu diria que eu encontrei tantos pontos em comum entre eu e ela que para mim é difícil saber onde está essa divisão, quando eu entrei no personagem e quando é que eu saí, eu acho que nesse momento a Bette me habita hoje aqui e agora, mesmo enquanto eu estou conversando com você, e ela está ali guardada no meu figurino, ali dentro, e ela não me abandona, chega no sábado às 8 horas da noite e ela vem forte. Sabe digo com muita emoção que estou muito feliz com esse trabalho. É um encontro com o Anselmo, inclusive porque a gente se conhece há mais de 50 anos. Trabalhamos juntos no cinema, no teatro e na televisão há mais de 50 anos, então é meio que uma coroação, um prêmio para nós dois nesse reencontro com essa personagem e a direção dele é belíssima, super elogiada, pessoas ficam encantada com espetáculo, que é curtinho, são 55 minutos. E é muito emocionante, às vezes as pessoas estão chorando na plateia e isso me comove e me emociona bastante.
Adilson: O teatro não é uma novidade na sua vida, você fez parte do Asdrúbal Trouxe o Trombone lá na virada dos anos 70 para 80 ao lado de Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé. E hoje nós temos uma outra realidade teatral, então o que hoje mudou no teatro e não deveria de ter mudado e o que não mudou e você, com a sua experiência, gostaria que tivesse mudado ?
Nina: Caramba, difícil. Eu acho que uma coisa mudou, e é muito triste. Na realidade o que incomoda é a escassez do público. Hoje em dia com a internet, com essas coisas todas do mundo digital, o teatro ficou um pouco deixado de lado. O teatro é muito mais frágil que o cinema. Você tem que ver no primeiro dia , tem que ver no segundo e tem que ver no terceiro e todos os outros dias porque o teatro é uma sessão única. No cinema você tem aquele filme e daqui a 50 anos aquela atuação, aquele filme continua lá. O teatro é só para quem viu , é uma preciosidade. Alguns alegam que é caro, mas tem outras coisas mais caras e das quais as pessoas não se privam né, e cultura é cultura. Ainda temos meia-entrada e coisas assim, e o que nos gratifica, o que nos acalenta é o carinho e o interesse do público. Agora, o que deveria ter mudado eu não sei mas não sei essa coisa das pessoas irem menos ao teatro. Isso é um pouco triste. Eu quero um público que volte, e eu tenho ouvido muito nesse meu espetáculo “Eu preciso dessa peça de novo” e tem gente voltando para ver então isso para mim é muito legal. O teatro é o único lugar em que existe a possibilidade do erro, já que no cinema não tem isso, na televisão não tem isso, e no teatro tem isso que sempre fascina e sempre fascinará ao público porque é o inusitado né, quando dizem “Ah, eu fui naquele dia que aconteceu tal coisa”. As pessoas adoram isso e enfim
Adilson: Vamos falar um pouquinho também agora de outras áreas. No cinema você esteve em Engraçadinha (1981), uma adaptação de Nelson Rodrigues, esteve em Menino do Rio (1982), trabalhou em Avaeté - A Semente da Vingança (1985), O Segredo da Múmia (1982) onde o Anselmo Vasconcellos fazia a múmia, O Escorpião Escarlate (1990). Por que você fez menos cinema ? É uma preferência pelo teatro ?
Nina: No Escorpião Escarlarte, eu faço uma locutora de rádio, alguma coisa assim, mas foi só uma brincadeira, não fiz o filme todo. Fico um pouco triste porque os novos diretores não me conhecem, porque nunca mais eu fiz cinema, mas é muito bacana, eu adoro fazer. Fiz também Eternamente Pagú (1987), dirigido pela Norma Bengell. Fiz coisas bacanas e tenho muito orgulho de ter feito esse filme lindo, maravilhoso da Norma
Adilson: O que se conecta melhor com a Nina, comédia ou drama ? Ou não, para você qualquer gênero é bem vindo. O que te atrai mais quando você pensa em fazer cinema ? Tem algum gênero que te atrai mais ?
Nina: Olha, na verdade, qualquer coisa que venha é bem-vinda e eu gosto de fazer qualquer coisa que me dê porque é da minha natureza de atriz né. Eu adoro qualquer coisa que faça a pessoa rir, eu sou um pouco palhaça, então eu gosto de comédia no teatro, no cinema e na televisão. É uma coisa que me encanta. Então eu tenho uma quedinha pelo pelo humor porque fazer um outro rir é um presente de Deus mas qualquer coisa que você me der para fazer, pode ser um drama profundo também vai me encantar. Qualquer uma dessas coisas me fascina dentro desse trabalho. Bette Davis - Manual de Sobrevivência, claro não é uma comédia, é diferente, mas ela tem muito humor e ela tem um humor assim sutil.
Adilson: Agora que você falou do humor, este é uma coisa que caminha na sua carreira porque você trabalhou com Chico Anysio e Jô Soares no programa dele por volta de 1980, lembro que você no quadro que era do Frei Cosme e Frei Damião, você participou do quadro do Jô fazendo a Dra Dalva de Oliveira e você era uma dos entrevistadores. Como foi trabalhar com essas feras ?
Nina: Tenho muito orgulho dessa minha história com eles, dois mestre. Também acompanhei o Jô quando ele foi para o SBT em 1988, e fiz com Agildo Ribeiro, outro programa chamado Não Pergunta que eu Respondo. Não não temos mais na televisão humor assim como o do Chico. Ainda temos A Praça é Nossa desde a época do Manuel de Nóbrega . Cheguei a fazer o Zorra Total, mas não tem mais. Eu sai do Zorra bem antes quando fui para a Record fazer a novela Chamas da Vida (2008), a novela dos bombeiros.
Adilson: Na TV, você fez Os Dez Mandamentos , novelas bíblicas e outras do cotidiano. Como foi esse período depois de tanto tempo em programas de humor ?
Nina: Em Sansão e Dalila que eu faço a mãe da Dalila (Mel Lisboa), que também adorei fazer, fiz Apocalipse (2017) agora ano passado eu fiz Até Onde Ela Vai (20124), que não é bíblico mas foi muito legal.
Adilson: Na Globo você fez A Gata Comeu (1985) na Globo foi um marco em sua carreira. Por que você acha que esta novela ganhou ao longo do tempo tantos fãs, mesmo aqueles que não a acompanharam naquela época ?
Nina: Ela atinge um público de uma forma muito impactante. Sem dúvida, criança se identificando com crianças, que era as os alunos do Professor Fábio (Nuno Leal Maia), tinha o romance através Cristiane Torloni com o Nuno, você tinha o Edson (José Mayer) com a Lenita (Deborah Evelyn) e a Babi (Mayara Magri) com o Zé Mário (Elcio Romar). Meu núcleo era muito feliz ali com certeza com certeza, e tinha a Ivete, minha personagem, todos esses personagens conquistaram a população de uma maneira que poucas novelas conseguem. Com certeza é uma das campeões de pedido de reprise, e tem um fã clube ativo até hoje. Esse ano nós tivemos um encontro, foi o terceiro que ele promovem com os atores na Urca, e depois saímos passeando pelo cenários desde a casa da Jô, a casa da Ivete, a escola. Isso é Fabuloso.
Adilson: O que você gostaria de ouvir Deus te dizer no momento em que você chegasse ao céu?
Nina: Caramba, eu diria que ele poderia falar "Bem-vinda, aceita um champanhe?", não sei difícil, eu espero que ele tenha uma festa com todos os meus amigos, meus parentes, meus meus amores, todas as pessoas de que eu gosto, que todos estejam lá para a gente festejar juntos.

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