RESENHA CRTICA: O ltimo Ato (The Humbling)
Um filme para os mais velhos e experientes, apaixonados por teatro e por Pacino
O Último Ato (The Humbling)
EUA, 14. 112 min. Direção de Barry Levinson. Roteiro de Buck Henry baseado em livro de Philip Roth. Com Al Pacino, Dianne Wiest, Greta Gerwig, Kyra Sedgwick, Dylan Baker, Dan Hedaya, Charles Grodin, Nina Arianda.
Por alguma razão, a distribuidora Americana não quis colocar este filme na corrida do Oscar, com medo de que a interpretação de Al Pacino fosse rejeitada, acusada de excessiva, de overacting (no entanto, ele continua a fazer outros trabalhos, tem ainda inédito Manglehorn, 14, com Holly Hunter, Danny Collins, com Annette Bening, Jennifer Garner e Beyond Deceit, do americano de origem japonesa Shintaro Shimosawa).
Pacino aos 75 anos (agora em abril) parece em grande forma, com ótima aparência e incrível energia. Sua maior paixão continua a ser o teatro e mais especificamente os textos de Shakespeare, a quem tem dedicado e produzido com sua própria grana, filmes como Ricardo III Um Ensaio, ou Oscar Wilde, de quem fez uma versão de Salomé (com a então novata Jessica Chastain), seguido por um documentário sobre o tema. Chegou ao cúmulo de rodar um filme inteiro, Chinese Coffee, como experimento (e que saiu apenas num boxe em DVD).
Ou seja, essa paixão que não pode ser contestada. E fica muito clara aqui neste projeto, para o qual ele conseguiu uma equipe Classe A e assina também como produtor. O diretor Levinson é o mesmo que levou o Oscar por Rain Man, o roteiro Buck Henry é de a Primeira Noite de um Homem, a trilha musical do brasileiro Marcelo Zarvos e o texto original do livro do escritor de maior prestigio atualmente na America, Philip Roth. E ele está cercado por uma série de grandes atrizes ainda que em papéis pequenos.
O titulo seria sobre a humildade, como muitas vezes temos que ser humildes (ou até nos humilharmos). A história original é sobre um ator que esta envelhecendo, possivelmente perdendo a razão, enquanto tenta sobreviver se agarrando ao tempo e a perda e a mortalidade, diante das frustrações de envelhecer. Pacino faz um ator lendário Simon Axler, que começa se preparando para sua interpretação, finalizando a maquiagem, relembrando frases e entrando em cena para um total fracasso.
Quase suicida, ele é internado numa clínica, não melhora quando vai casa. Mas ao menos encontra uma moça, lésbica (Greta Gerwig), filha de um ator amigo e professor. Os dois começam um caso (no livro ela já passou dos 40, aqui ainda não chegou aos 30). Curiosamente o filme tem bastante a ver (inclusive no final) com o atual Birdman, que é também sobre um ator e a dor de representar. Ainda que em tons diferentes. O texto aqui é mais pesado, com menos alivio cômico, menos tour de force. Mas já deixa claro que este é um filme para os mais velhos e experientes, apaixonados por teatro e por Pacino. Por que para mim, velho admirador, o achei até contido, acompanhei com atenção sua trajetória e até me comovi com o trabalho, ou talvez possamos chamar de exercício. Infelizmente não será todo mundo que vai pensar o mesmo.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.