Brizola, Uma Utopia Brasileira: Por S?lvio Tendler

S?lvio Tendler conhece os meandros do documentario em torno de personalidades historicas

14/09/2025 02:22 Por Eron Duarte Fagundes
Brizola, Uma Utopia Brasileira: Por S?lvio Tendler

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Sílvio Tendler conhece os meandros do documentário em torno de personalidades históricas. Quase no sentido original do vocábulo meandro, que seria o curso (como num rio), incluindo as pedras e montanhas no caminho. Brizola, anotações para uma história (2024), que chegou a ser exibido em outubro no Festival do Rio (não me dera conta disto, tantas eram as atrações para escolha na mostra) e agora está em breve estágio no SESC Digital (talvez prenúncio de suas exibições nos cinemas), é uma nova amostra do talento de documentarista de Tendler, ainda que faça um panegírico de sua personagem (como o fazia em seus clássicos Os anos JK, 1980, e Jango, 1984), o cineasta tem o dom de, pela articulação da montagem e do momento preciso de expor na tela uma determinada imagem seguida de outras, traçar um panorama da história política e social brasileira no século XX. Talvez Tendler se tenha inspirado, para o título de seu filme, num livro do crítico Jean-Claude Bernardet, leitura obrigatória para quem vê cinema no Brasil, Cinema brasileiro: propostas para uma história (1979). Entre as propostas escritas de Bernardet e as anotações em imagens de arquivo de Tendler, vivemos.

Leonel Brizola é a figura da vez da lente cinematográfica de Tendler. O filme começa simulando uma entrevista com Brizola já em seu ocaso: alguns minutos de conversa. Mostrando Brizola questionando quem está atrás da câmara (e não aparece na imagem) sobre os rumos do filme, se só ele falará, se haverá perguntas, o homem da câmara diz que haverá perguntas à medida que a fala se desenvolver. Mas logo veremos que não se trata dum longo filme-entrevista com Brizola, à maneira do que fez o alemão Hans Jürgen Syberberg com Winifred Wagner, a nora nazista do compositor Richard Wagner. Não: o filme de Tendler será um documentário de arquivo, com várias vozes locutoras (entre estas, a da gaúcha Itala Nandi) costurando imagens históricas. A conversa com Brizola ao vivo retornará no fim, fechando as coisas: que filme pensará Brizola que houve? De Tendler, uma brincadeira de metalinguagem.

Tendler, com seu cinema, olha para Brizola como uma personalidade que se frustrou no seu escopo final: chegar à Presidência da República. Brizola na batalha essencial de sua vida. Como a seleção brasileira de futebol de 1982, encantou a todos mas não obteve o título. Ainda assim, está forte na retina da história. Nunca saberemos o que seria o Brasil se, em 1989, ele tivesse chegado a presidir o país, e menos ainda se os vinte anos de ditadura militar não o tivessem afastado dos destinos da nação. Em Brizola, anotações para uma história Tendler cobre as ações básicas da vida política de Brizola, inclusive a famosa briga do político com a Rede Globo, em que Brizola ganhou na Justiça o direito de responder, com a voz global, no Jornal Nacional, a acusação de Marinho e seus asseclas sobre estar ele, Brizola, velho e ultrapassado. Quem viu, há anos, o documentário Brizola, tempos de luta (2007), de Tabajara Ruas, sentiu, no filme de Tendler, a ausência de ver as imagens globais da resposta de Brizola, que Ruas utilizou e levou, ao menos aqui no sul, com “nosso jeito de Brizola”, como dizia o historiador Décio Freitas, ao delírio quase ufanista. Por que Tendler, cuja característica de panegírico se evidencia em sua narrativa, não se valeu também destas imagens? Ainda assim, estamos diante duma obra forte e essencial: anotações para uma história.

Vi este documentário de Tendler, na véspera de Natal, sob o impacto do falecimento do ex-governador gaúcho Alceu Collares, o mais brizolista dos seres depois de Brizola; Collares tinha 97 anos e, em 2008, na sessão do filme de Ruas, no CineBancários, em Porto Alegre, eu o ouvi altercar com Ruas: um número à parte.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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