Drcula - A Chama da Imortalidade

Acompanhe a trajetria de Drcula em filmes, nesta verso com vdeos ilustrativos

22/10/2014 12:16 Por Adilson de Carvalho Santos
Drácula - A Chama da Imortalidade

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A mortalidade e a brevidade da vida sempre incomodaram o ser humano. Logo, uma figura que atravessa a eternidade ocupa a essência de nossos sonhos e superstições. Há séculos, lendas de vampiros ou “desmortos” fazem parte do folclore europeu, muito antes que o escritor irlandês Abraham Stoker (1847 – 1912) as usasse como matéria-prima de seu mais famoso romance: Drácula, publicado originalmente em 1897. A esses mitos e superstições, Stoker fundiu a figura histórica do príncipe romeno Vlad Tepes que governou a região da Valáquia, atual Romênia, combatendo os invasores turcos com requintes de crueldade notória. Vlad, o empalador, fincava uma estaca de madeira no peito de seus inimigos e bebia seu sangue. A mente criativa de Stoker soube unir todos esses elementos na figura de Drácula, nome da família de Vlad, ligada à Ordem do Dragão - linhagem religiosa do auge do Império Romano. Contudo, o livro de Stoker não foi, como muitos pensam, o primeiro livro sobre vampiros. Antes dele houve Vampyre (1819) de John Polidori e Carmila (1871) de Sheridan Le Fanus.

 

Drácula, no entanto, sobressaiu-se graças à forma como Bram Stoker conduziu sua história: Sua narrativa é toda em primeira pessoa através de cartas e diários pertencentes aos personagens humanos que giram em torno do vampiro o advogado Jonathan Harker, sua noiva Mina, o Dr. Seward, Quincy Morris, e é claro, o Professor Abraham Van Helsing entre outros cujos pontos de vista direcionam a visão do leitor. As palavras de Stoker são embebidas de uma inusitada credibilidade e apurada descrição da região em que Drácula vive, apesar de seu escritor nunca ter visitado o Leste Europeu onde fica a Transilvânia. Para a sociedade reprimida do final do século XIX, a mordida do vampiro funcionava como perfeita metáfora para o orgasmo e o prazer ilimitado, associada a perversões e à sexualidade exacerbada capazes de se espalhar por entre os mortais. Logo, o vampiro não apenas desafiava a ordem natural da vida e da morte, mas também a conduta moral de toda uma sociedade. Essas subleituras enriqueciam a história de Drácula e o cinema não demorou a enxergá-las como uma bela fonte de adaptação.

Em 1922, dez anos depois da morte de Bram Stoker, o diretor alemão F.W. Murnau tentou mas não conseguiu os direitos de adaptação da viúva Florence Stoker. Assim, Murnau modificou os nomes dos personagens e realizou Nosferatu com Max Shreck como o vampiro, o conde Orlock.

 

Além de mudar os nomes, Murnau transformou o vampiro de uma figura sedutora em um ser repulsivo e assustador graças a uma eficiente maquiagem que eclipsou o rosto do ator Max Shreck, tornado anônimo para as gerações que se seguiram, o que levou ao curioso filme A Sombra do Vampiro (Shadow of a Vampire) de 2003, o qual teorizava que Shreck era um vampiro de verdade.

 

A viúva de Stoker processou Murnau e conseguiu a ordem judicial que recolheu todas as cópias de Nosferatu - claro que nem todas. O filme de Murnau foi redescoberto muito tempo depois e alçado ao status de clássico do expressionismo alemão, e para muitos a melhor versão de Drácula, ainda que não oficial.

Anos depois do filme de Murnau, a obra de Stoker era um sucesso nos palcos londrinos em uma adaptação escrita por Hamilton Deane, desta vez com o consentimento da família de Stoker. A montagem da peça foi levada até a Broadway por John Balderstone trazendo o ator húngaro Bela Lugosi no papel central. Os direitos de filmagem da peça foram comprados pela Universal, que contratou o diretor Tod Browning.

 

Este queria Lon Chaney como Drácula, mas a morte do homem das mil faces (como era conhecido Chaney) levou Tod a contratar Lugosi que já estava acostumado ao personagem. A caracterização de Lugosi lançou as bases para o imaginário popular: o terno e capa preta de acordo com sua condição aristocrática, os cabelos penteados para trás, o olhar hipnótico (realizado com um feixe de luz lançado diretamente sobre seus olhos) e o forte sotaque em falas marcantes como “Ouça-os, crianças da noite!”. O visual impressionante deixava, no entanto, de fora as famosas presas do vampiro, deixando para a voz e o olhar de Lugosi a função de assustar as plateias. Drácula foi feito em 1930 e lançado no dia dos namorados do ano seguinte. Uma versão em espanhol, visando o mercado latino, foi filmada por George Melford nos mesmos cenários que o filme de Browning, apresentando Carlos Villarias no lugar de Lugosi.

 

A carreira de Lugosi ficou estagnada após Drácula, caindo no ostracismo e relegado a papeis inexpressivos em filmes cada vez menores. Tempos depois foi resgatado por Ed Wood (considerado o pior cineasta do mundo), vindo a falecer em 1956, aos 73 anos e sendo sepultado com a capa do personagem que marcou tanto sua carreira.

 

Lugosi, no entanto, se projetou para a eternidade e virou até música, a hipnótica Bela Lugosi Is Dead, da banda pós punk Bauhaus, e que foi usada, em 1982, na trilha sonora do filme Fome de Viver (The Hunger), de Tony Scott, uma modernização do mito sobre vampiros.

 

Dois anos depois da morte de Lugosi, o personagem é reinventado para a geração seguinte com a atuação hipnótica e sedutora do ator inglês Christopher Lee em Drácula – O Vampiro da Noite (Dracula), dirigido por Terence Fisher. O filme, produzido pela Hammer Films, foi um sucesso apesar de novas liberdades serem tomadas em relação ao livro de Bram Stoker como nunca mostrar Drácula envelhecido no início da história; ou Mina que é retratada no filme como esposa de Arthur e sem relação direta com Jonathan Harker, que no filme vai ao castelo do conde ciente de sua natureza malévola e com intenção de destruí-lo. A Hammer acentuava o lado sensual do vampirismo, bem como caprichava na cenografia gótica. Apesar das mudanças, Lee tornou-se icônico no papel mesmo tendo apenas 13 falas em todo o filme. Sua atuação é estilosa, equilibrando sua pose aristocrática com feições de puro terror, realçadas pelo vermelhão nos olhos e pelas presas salientes, pela primeira vez exibidas de forma ameaçadora. Ao seu lado, o ótimo Peter Cushing como seu nêmesis, o Professor Van Helsing. O filme foi rebatizado de O Vampiro da Noite (Horror of Dracula), para evitar confusão com o filme de Lugosi.

 

Lee repetiu o papel mais 7 vezes: seis pela Hammer, entre 1958 e 1973, e uma na produção alemã de 1970, dirigida por Jesus Franco, e que ainda trazia no elenco Klaus Kinski, antes deste encarnar o vampiro na refilmagem de Nosferatu. O filme de Franco tem o mérito de ser o primeiro a mostrar Drácula como um homem velho que vai rejuvenescendo a medida que bebe sangue, como no livro. Lee constantemente reclamava de estar cansado do personagem e eventualmente parou de interpretá-lo, porém ficou marcado no imaginário popular através de incontáveis reprises na TV, que fez de Lee o intérprete mais prolífico e popular do personagem.

 

A década de 70 ainda teve Jack Palance em uma versão para a TV dirigida por Dan Curtis em 1973, roteirizada por Richard Matherson,

 

a violenta versão produzida por Andy Warhol em 1974,  entitulada Blood for Dracula com o ator alemão Udo Kier como o vampiro

 

e William Marshall em Bláckula, onde um príncipe africano torna-se a versão blackexploitation do personagem.

 

1979 foi o ano do vampiro pois teve quatro filmes de Drácula nas telas. A refilmagem de Nosferatu, o Vampiro da Noite dirigido por Werner Herzog, que restaurou os nomes dos personagens originais do romance de Stoker, cujos direitos já haviam caído em domínio público na época. No elenco Klaus Kinski e Isabelle Adjani em um trabalho respeitoso embora inferior ao original de Murnau, e exibido no Festival de Filmes de Nova York.

 

Poucos meses antes, Nova York recebera a estreia de uma nova versão, adaptada para o teatro da mesma peça de Hamilton Deane & John Balderston só que com toda  ênfase em cima do romantismo! Surgia o Drácula galante interpretado por Frank Langella  que iria repetir nas telas, o mesmo papel sem no entanto o mesmo êxito e – inclusive – interpretando o vampiro sem presas, tal qual Lugosi no filme de 1930.

 

Além do Drácula de John Badham, com Frank Langella, houve a paródia Amor à Primeira Mordida (Love at First Bite) com George Hamilton que chegou a ganhar o Saturn Award (prêmio dado ao gênero fantástico) e foi indicado ao Golden Globe. Este sim grande êxito de bilheteria. 

 

Influenciado pelo sucesso da peça também no Brasil vivida por Raul Cortez e Carla Camurati, o produtor Walter Avancini teve a ideia de pedir um texto para telenovela ao Rubens Ewald Fiho.  Um ano depois, estreou no Brasil a adaptação do livro de Stoker para o formato de telenovela entitulada “Drácula – Uma História de Amor”. A novela, filmada no município paulista de Paranapiacaba, trazia o conde romeno, interpretado pelo ótimo Rubens de Falco, ao Brasil onde conhece Mariana (Bruna Lombardi) que é a reencanação de sua amada e namorada de seu filho Rafael (Carlos Alberto Riccelli). A novela, cuja direção ficou a cargo de Walter Avancini, teve quatro capítulos transmitidos pela TV Tupi, entre Janeiro e Fevereiro de 1980, sendo então interrompida quando a emissora paulista entrou em falência. Foi a ultima novela da Tupi.

 

Cinco meses depois, a novela reestreou na Rede Bandeirantes, rebatizada de “Um Homem Muito Especial” e com a direção de Antonio Ambujamra. Muito antes que a Rede Globo produzisse novelas bem sucedidas como “Vamp” e “O Beijo do Vampiro” foram Avancini e Rubens Ewald Filho quem trouxeram o vampirismo para a teledramartugia brasileira.

Mais de dez anos depois, Francis Ford Coppola realizou uma pretensa adaptação definitiva do livro de Stoker entitulada Drácula de Bram Stoker em 1992 com Gary Oldman, Wynona Ryder, Keanu Reeves e Anthony Hopkins. No entanto, apesar de capturar o espírito da obra literária, o filme funde o personagem vampiro ao Vlad Tepes histórico e reinventa sua relação com Mina, que no livro não vai além da relação de um predador voraz atrás de sua presa, sem o romantismo empregado por Coppola. O filme foi muito bem sucedido e foi premiado com três Oscar®: melhor figurino, efeitos sonoros e maquiagem.

 

Outros Dráculas vieram: Leslie Nielsen na paródia de Mel Brooks Drácula – Morto mas Feliz,

 

Gerard Butler em Drácula 2000,

 

o afetado Richard Roxburgh no decepcionante Van Helsing – o Caçador de Monstros,

 

Dracula 3D - a versão de Dario Argento de 2012,

 

além de Adam Sandler como a voz do personagem na animação Hotel Transilvânia.

 

Drácula já apareceu em animações, HQs, séries de TV (a mais recente com Jonathan Rhyes Myers foi cancelada), ganhou um novo livro - uma sequência oficial em 2009 escrita pelo sobrinho-neto de Stoker, e migrou para os vídeo games no famoso “Castlevania” , chegando agora na releitura proposta pelo filme Drácula – A História Não Contada.

 

Lamentavelmente, quando vivo Bram Stoker nunca usufruiu do devido prestígio, já que muitos consideravam a obra apelativa e de mau gosto. Hoje é uma das obras literárias mais lidas e adaptadas para outras mídias e sua influência se faz sentir nas obras de escritores como Stephen King, Anne Rice, e até mesmo Stephanie Meyer em sua série de sucesso entre o público jovem, Crepúsculo. Prova que, no meio da noite, ele sempre há de se erguer do túmulo em um nova adaptação. O fascínio do personagem resiste ao tempo, afinal: Vampiros são eternos!

 

(Texto de Adilson de Carvalho Santos)

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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