OSCAR 2014: Os Indicados como Documentrio de Longa Metragem
O favorito Ato de Matar, uma obra-prima. Mas a Academia mudou as regras e os demais indicados so bons e polmicos.
A Academia tem mudado tanto as regras que por enquanto esta difícil entender se foi para melhor ou pior. De qualquer forma, atualmente todos os associados podem votar na categoria (e não mais uma pequena comissão de voluntários especializados). Não sei se tem relação, mas houve uma queda de nível, no seguinte sentido: os filmes deste ano são bons e polêmicos (quase todos), mas apenas uma obra-prima. Todos inéditos no Brasil comercialmente por enquanto. São eles:
O Ato de Matar (The Act of Killing) de Joshua Oppenheimer, Signey Byrge Sorensen e Anonimos. Se houver alguma lógica este será o vencedor, já que é um dos grandes documentários que assisti em toda minha vida. Nada parecido foi realizado antes. Ganhou em Berlim o prêmio de melhor filme do Panorama e melhor documentário. Já foi descrito como se fosse um registro dos Nazistas e a SS mostrando como matavam e agiam no Holocausto. Com a diferença que aqui os assassinos ainda estão no poder e se acham intocáveis. Mais que isso, foram eles que fizeram a encenação se inspirando em filmes americanos de John Wayne e Sidney Poitier. Então abre e fecha como se fosse um grande musical (brega), onde bailarinas dançam e entram na cabeça de um grande peixe. É absolutamente incrível e assustador assistir a frieza como são matadores de milhares de pessoas (em geral comunistas, uma espécie de esquadrão da Morte a serviço do governo da Indonésia. Um milhão de pessoas seria o numero calculado de vitimas!). Ditando regras, pedindo senso de humor, entrando em detalhes, realmente eles discorrem sobre a arte de matar. Pelo menos 20 membros da equipe tiveram que assinar como anônimos (inclusive um dos co-diretores) com medo das represálias futuras, já que tudo é confessado com a maior empáfia e orgulho. E a certeza e continuarem ilesos mas querendo agora se tornarem famosos (falam sobre Bush, Crimes de Guerra). Um filme realmente inacreditável (não explicito demais para chegar a limite da tolerância). Obrigatório para qualquer pessoa preocupada com a natureza humana. Teve outros prêmios (30).
Cutie and the Boxer de Zachary Heinzerling, Lydian Dean Pitcher. O mais fraco da lista e que não devia estar nela. Não chega a interessar a história da dupla de artistas de origem japonesa que vive em Nova York, casados ha 40 anos, Ushio Shinohara,e sua mulher Noriko. Ele faz obras de arte (duvidosas) dando socos com tintas numa tela e por isso mesmo não chegou a fazer grande sucesso. Ganhou Sundance, Full Frame e Londres.
Guerras Sujas (Dirty Wars) de Rick Rowley e Jeremy Scahill. O jornalista e correspondente de Guerra Jeremy, que está em missão no Afganistão, começa a suspeitar que há algo errado como o Exercito Americano. Terroristas aparecem mortos sem justificativa (a noite, tudo é dominado pelos talibans) assim como às vezes menores de idade ou inocentes. Ele finalmente tenta denunciar que há uma conspiração para matar, mesmo sem julgamento ou qualquer formalidade, qualquer suspeito de ser rebelde ou nacionalista. Este é o melhor realizado, editado, como se fosse um filme de suspense . Um thriller de ficção e não deixa de usar cenas de debates na TV americana. Mas é incrível como americano custa a perceber o óbvio! Ganhou Boston, Little Rock, foto em Sundance, Telluride, Varsóvia.
A Praça (The Square) de Jehane Noujaim, Karim Amerc (Egito). A diretora é mesmo Jehane, uma jovem (nasceu em 1974) egípcia que fez Startup.com, Control Room. E que conta a história das manifestações de rua no Cairo que conseguiram por um tempo derrubar o governo. Mas aos poucos foram infiltradas por organizações religiosas extremistas, que tomaram conta do movimento, desvirtuando. Da a palavra aos que lutaram nas ruas, mas não consegue entrevistar membros do governo nem os radicais islâmicos. Mesmo assim impressiona (feito com câmera não profissional). Ganhou também Sindicato dos Diretores, Dubai , Hamptons, Sundance (World Cinema), indicado ao Independent Spirit.
A Um Passo do Estrelato (20 Feet from Stardom) de Morgan Neville. Assisti meio sem querer no avião Delta que me trazia de Atlanta e foi uma boa surpresa. O único que trata de música e um tema agradável ainda que triste: a saga de cantoras excelentes, de vozes incríveis, mas que não conseguiram fazer carreira solo. Quase todas tentaram mas não deram certo e ainda hoje tem que ficar de background, como diz o titulo original, à 20 pés do estrelato. Tem muita música, depoimentos importantes, apoio de astros famosos e interpretações de arrepiar. Como explicar que gente de talento não consiga por vezes o êxito que merecem? O diretor produtor é veterano e tem curriculum de 28 documentários. Inclusive para a série Biography. Indicado ao Independent Spirit, ganhou Seattle, San Francisco, River Run, Phoenix, National Board of Review.
Ficaram de fora
Em 3 de dezembro a Academia revelou uma lista de pré-candidatos na categoria. Assim na listagem final ficaram de fora os seguintes indicados:
- The Armstrong Lie - The Kennedy/Marshall Company
- Blackfish - Our Turn Productions
- The Crash Reel - KP Rides Again
- First Cousin Once Removed - Experiments in Time, Light & Motion
- God Loves Uganda - Full Credit Productions
- Life According to Sam - Fine Films
- Pussy Riot: A Punk Prayer - Roast Beef Productions
- Stories We Tell - National Film Board of Canada
- Tim's Vermeer - High Delft Pictures
- Which Way Is the Front Line from Here? The Life and Time of Tim Hetherington - Tripoli Street
As ausências mais sentidas são as de Histórias que Contamos (Stories We Tell), premiado drama da atriz e excelente diretora Sarah Palley, que com a ajuda de sua família relembra velhas historias em busca da verdade. Também gostei de Blackfish: Fúria Animal, de Gabriela Cowperthwaite. Sobre acidente com treinadora de baleia assassina em parque aquático e o perigo de suceder de novo. Foi super elogiado e admirado; Tim´s Vermeer feito pelo famoso mágico Teller, onde o inventor Tim Jenison, procura entender as técnicas de pintura do lendário pintor Holandês Johannes Vermeer; The Armstrong Lie foi produzido pelo casal Kathleen Kennedy e Frank Marshall, amigos de Spielberg (ela é a chefona hoje do império George Lucas!) e mostra as mentiras do campeão de ciclismo Lance Armstrong; Pussy Riot é sobre o grupo punk russo que foi mandado para a cadeia.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.