RESENHA CRTICA: A Viagem do Meu Pai (Floride)
Um filme srio (que estranhamente no foi consumido pelos franceses). Talvez por ser amargo e triste demais
A Viagem do Meu Pai (Floride)
França, 15. 110 min. Direção de Philippe de Guay. Roteiro dele, Jerome Tonerre baseado em peça Meu Pai de Florian Zeller. Com Jean Rochefort, Sandrine Kiberlain, Laurent Lucas, Annamaria Marinca, Clémant Metayer, Coline Beal.
O diretor Le Guay fez antes o inteligente Pedalando com Moliére, As Mulheres do Sexto Andar, e Juliette Amor Alucinante, todos eles com meu ator francês preferido do momento Fabrice Luchini. Mas escolheu desta vez uma história ingrata e difícil, porque já sabe que não tem resolução positiva. É outro filme sobre a doença de Alzheimer, no caso um senhor de 80 anos, que vive numa antiga casa na região de Annecy (perto dos Alpes e da Suíça), onde implica com as mulheres que tentam cuidar dele e não percebe as boas intenções da filha mais velha (a sempre eficiente Sandrine Kiberlain) que agora cuida da indústria da família. Com a doença cada vez mais acentuada, ele compra briga com um antigo amigo que faleceu, acusando-o de fraude, vive falando da filha mais nova que vive na Flórida (de onde ele louva o suco de laranja) e que ele não guarda que morreu num desastre de automóvel. Fora a delicada paisagem onde se passa a história, os conflitos são tristes e desoladores, como as tentativas que fazem para interná-lo num casa de repouso e uma viagem de avião a Flórida que pode ou não ser de verdade.
Um tema difícil que o cinema tem abordado com frequência e que aqui serve veículo para um veterano e grande ator Jean Rochefort, que não é muito famoso por aqui embora tenha filmado no Brasil (isso faz tempo com Pour um Amour Lointain, de 62, dirigido por Edmund Séchan, com Cristina e Isabel Jardim). Nascido em 1930, ele tem 159 créditos e tem um trabalho exemplar, ganhando um Cesar Honorário em 1999, outro pelo inédito aqui, Le Crabe Tambour,77, e mais um Que la Fête Commence, 75, de Tavernier (mais quatro e indicações para o Cesar e duas para o European film Award, público e critica com Uma Passagem para a Vida, 02).
Enfim, um filme sério (que estranhamente não foi consumido pelos franceses). Talvez por ser amargo e triste demais.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.