RESENHA CRTICA: Rainha de Katwe (Queen of Katwe)

Um belo filme que merece ser resgatado. A direo da diretora indiana Mira Nair est firme, interessante

23/11/2016 21:43 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA: Rainha de Katwe (Queen of Katwe)

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Rainha de Katwe (Queen of Katwe)

EUA, 16. 124 min. Direção de Mira Nair. Roteiro de William Wheeler. Baseado em livro e reportagem de Tim Crothers. Com Lupita N´yong´o, David Oyelowo, Madina Naiwanga, Martin Kabanza, Taryn Kyaze, Taryn Kyaze, Nicola Levesque.

Já comentei com vocês que a atual série de filmes norte-americanos sobre os problemas dos negros é uma resposta a ação da Academia de Artes e Ciências do Oscar numa reação ao fato de que por dois anos seguidos nenhum negro foi premiado pelos votantes (e havia os que mereciam). A Imprensa brincou com razão de que tudo era “muito, oh tão branquinho!”. Foi assim que eles estão tentando lançar essa chamada diversidade abrindo para gente mais nova e mais aberta e de outros países. Mas há um limite até onde eles podem ir. Sabe-se que a indústria de diversões vai até onde render dinheiro. Isso é o que vale e mande. Se filmes com negros derem boa bilheteria, adeus problemas. Estaria tudo resolvido. Mas ate agora isso não esta sucedendo (há ainda outros que virão por aí mais perto da época do Oscar).

Por isso é interessante se ver o que a Disney fez com este drama real muito negro e muito real, venha temperado com emoção (até lágrimas), uma produção impecável (a história real se passa em Uganda, Sudão, mas as filmagens foram variadas também na África do Sul). E até as casas pobres, tipo favelas, são extremamente fotogênicas, inclusive com os tecidos coloridos, os ritmos alegres e uma alegria de viver a qualquer custo mesmo na miséria. Enfim, com tudo que tem ganho nos últimos anos ainda mais junto com a Marvel, ela se pode dar ao luxo de arriscar.

Chamou para a direção uma diretora indiana que já fez muito sucesso mundo afora, Mira Nair. Que normalmente tem uma direção meio descuidada, limitada. Não aqui, onde tudo é bonito e caprichado (inclusive uma ideia bem tocante em que aparecem os biografados abraçados ao atores que os interpretaram). Mira para quem não lembra, surgiu com Salaam Bombay, fez Um Casamento à Indiana, Nome de Família, Feira das Vaidades com Reese Witherspoon, Mississipi Massala com Denzel Washington, Tudo por um Sonho com Marisa Tomei e até um Kama Sutra. Ela se interessou pelo projeto quando viu um documentário sobre o treinador/professor de xadrez.

Repito que nunca vi tanta firmeza na direção dela embora falhe noutro ponto. Tem varias finais que vão se arrastando e não foge do sentimentalismo, por mais que seja real tudo é colorido e positivo demais. Mas é preciso reconhecer que todo o elenco, mesmo em pontas, está super convincente e natural, em particular a menina protagonista que surge com toda simplicidade e verdade (Madina).

Enfim, conta-se a história real de Phiona Mutesi, uma jovem de Uganda que faz parte de uma família muito pobre principalmente porque o pai morreu. Uma irmã prefere se vender para um homem. A mãe luta de todas as formas para sustentar os filhos, ainda pequenos e finalmente um filme da oportunidade para brilhar a bonita e carismática Lupita, que já tem um Oscar mas até agora aparece mais dublando e papeis pequenos. Aqui ela segura todo o filme com a energia e sem os excessos de uma Anna Magnani, enquanto a menina vai enfrentando as dificuldades de se tornar na total pobreza uma campeão de jogo de xadrez (aliás o filme dedica longos trechos ao jogo e deve interessar muito ao praticantes dele). É muito ajudada por um técnico de boa vontade, mas com limitado conhecimento (e David Oyelowo, que nasceu em Oxford, Inglaterra, já tinha me convencido em O Mordomo da Casa Branca mas principalmente em Selma, que poucos viram aqui, mas era empolgante, e outros como O Ano Mais Violento e a ainda inédita biografia de NIna Simone).

Xadrez não é meu forte, mas gosto de filmes positivos, que contam histórias reais e emocionantes. E que dão bons exemplos. Pena que nem todo mundo tenha esse gosto.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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