Rossellini ao Quadrado nos Taviani

Isabella Rossellini é a estrela de O Prado (Il prato; 1979), filme rodado pelos italianos Paolo e Vittorio Taviani

02/12/2016 22:15 Por Eron Duarte Fagundes
Rossellini ao Quadrado nos Taviani

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

 

Isabella Rossellini é a estrela de O prado (Il prato; 1979), filme rodado pelos italianos Paolo e Vittorio Taviani ancorado em sua maior parte no realismo humanista do cineasta italiano Roberto Rossellini. Como Rossellini, os Taviani se opõem ao estrelismo cinematográfico, embora (como se vê) nem sempre desdenhem da posição duma estrela dentro de sua linguagem. Isabella é filha de Rossellini com uma estrela de Hollywood que “adulterou” o cinema de Rossellini, a sueca Ingrid Bergman; em cena Isabella não deixa de ser, em O prado, uma sombra benfazeja de sua mãe e também de seu pai, misturando a reflexão humanista com a necessidade de estrela do cinema.

Numa determinada cena a personagem de Isabella está numa sala de cinema vendo o clássico Alemanha, ano zero (1949), de papai Rossellini; cenas da Berlim destruída pela guerra e as dolorosas imagens do suicídio do garoto Edmundo são citações cinematográficas dentro de O prado. Antes desta cena, um dos namorados de Eugenia, a personagem de Isabella, referiu à garota a experiência de ver a obra-prima de Rossellini. Assim, Isabella e Alemanha, ano zero são a ponte que permitem aos Taviani admitir as conexões espirituais de O prado com o jeito rosselliniano de fazer cinema.

Em O prado há grandes planos abertos dos prados do interior da Itália; a beleza visual de O prado se aproxima muito duma metafísica do cinema que remete ainda e sempre a Rossellini. O prado conta com graça melancólica sua história. É uma história de amor em que uma misteriosa mulher interiorana é amada ao mesmo tempo por dois homens; nada a ver, todavia, com o amor segundo o francês François Truffaut, é um amor transcendente e agudo que vizinha com a poesia. Eugenia aparece pela primeira vez no filme em cima de pernas de pau, divertindo as crianças de aldeia. Giovani é quem narra o filme, com suas cartas endereçadas a um amigo chamado Leonardo. Enzo é mais calado, mas se intromete no caso de amor onde Giovanni desde o início aclara seu encanto com a mulher-mistério.

Sua referência às asperezas mortais de Alemanha, ano zero se sedimentam no final, quando um pai amargurado, o pai de Giovanni, tem de conduzir seu filho à morte de helicóptero para tentar salvá-lo. É o mesmo desespero do espectador diante do suicídio do menino Edmundo no filme de Rossellini.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

Linha

relacionados

Todas as máterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantém você conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar você pode compartilhar suas preferências, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se já!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro