A Transformao do Tdio em Melodia

O Sal da Terra, documentrio lanado em 2014 e indicado ao Oscar, no a histria de vida de um dos fotgrafos mais importantes do mundo, mas o seu olhar sobre ele

27/01/2017 21:30 Por Bianca Zasso
A Transformação do Tédio em Melodia

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

Era uma vez um garoto chamado Sebastião, do interior de Minas Gerais, que tinha sete irmãs e pais que prezavam a educação. Ele iniciou o curso de direito, mas seu caminho acadêmico foi encontrado mesmo na economia. Um dia, encontrou uma garota chamada Lélia e se apaixonou. Por conta da ditadura que assolou nosso país a partir de 1964, o casal foi morar em Paris. Lá, Lélia comprou uma câmera para seus estudos de arquitetura, mas quem gostou de brincar com ela mesmo foi Sebastião. Tanto que largou tudo e foi levar a brincadeira a sério. Com Lélia ao lado, é claro. Esta é a história do fotógrafo Sebastião Salgado, contada de forma resumida e pobre de palavreado por esta colunista. Até porque, só se pode desvendá-lo por meio de imagens. E isso coube ao cineasta alemão Wim Wenders ao lado do amigo e colega de profissão Juliano Ribeiro Salgado, filho de Sebastião.

O sal da terra, documentário lançado em 2014 e indicado ao Oscar, não é a história de vida de um dos fotógrafos mais importantes do mundo, mas o seu olhar sobre o mundo. Ao longe dos seus 40 anos de carreira, Sebastião Salgado registrou rostos que falam, imortalizando traços, rugas e gestos que transmitem o sofrimento humano causado pelos mais diversos motivos. A fome na África, a incógnita de lar dos refugiados, a seca no nosso sertão e a busca por fortuna na Serra Pelada. É com este local, aliás, que o filme abre, impactando a plateia com uma das fotografias mais conhecidas de Salgado. Um formigueiro humano, com homens de várias idades, cores estruturas físicas subindo e descendo na esperança de avistar a pepita que irá mudar seus futuros. Não bastasse a grandeza e a sensibilidade do ângulo, Salgado agrega ainda mais significados aos seus cliques com seus comentários. O resultado é que queremos rever suas imagens e repetir o que Salgado sentiu ao apertar o botão da câmera, mesmo sabendo o quanto isto é difícil.

Apesar de dividir o trabalho com Juliano, é o estilo de Wim Wenders que transparece em O sal da terra. Ele, o homem das paisagens desoladoras, deixa sua câmera se demorar diante da natureza e de Sebastião retratando-a. Isso porque, depois de décadas apontando suas lentes para pessoas, o fotógrafo encontra nas plantas e nos animais uma esperança que as dores que presenciou lhe haviam tirado. A frente do Instituto Terra, sua nova motivação é dar uma segunda chance para o que o homem destruiu. O garoto mineiro agora planta árvores e fotografa tribos isoladas com o mesmo sorriso e olhar terno de sempre.

Juliano pode não ter a mesma poesia visual de Wenders, mas seu propósito ao realizar O sal da terra é mais profundo. Devido as longas viagens de trabalho, Juliano cresceu num ambiente onde ter o pai em casa era exceção. Sem traumas aparentes dessas ausências, o filho resolve descobrir o pai pelo caminho de sua paixão.  Munidos cada um com suas lentes, se mostrar e também desnudam o outro. Ao contrário da maioria de nós, que segue a ideia freudiana de que é preciso “matar o pai” para seguirmos em frente, Juliano fez o seu genitor renascer e parece ter entendido que as faltas não eram pouco afeto, mas gana de registrar o mundo para mostrá-lo não como ele é, mas como há beleza até quando ele parece perdido.

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitrio Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicaes, participou da obra Uma histria a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixo em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco o cinema oriental, com nfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questes flmicas e antropolgicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crtica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Stima Arte.

Linha
Todas as mterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantm voc conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar voc pode compartilhar suas preferncias, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se j!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro