O Ano Rebelde que Ainda Incomoda
1968, de maio a dezembro, jornalismo, imaginário e memória (2018) é uma edição da Sulina organizada por Juremir Machado da Silva, Álvaro Larangeira e Christina Ferraz Musse
1968 foi um ano agitado. Em todo o mundo. A capital da agitação foi Paris. Como foi 1968 no Brasil? Estávamos sob uma ditadura. Mas a influência do que acontecia no mundo sobre nossa sociedade determinou alguns movimentos contestatórios (uma morte emblemática: a do estudante Edson Luiz) que, longe de nos libertar, levou o regime ditatorial a fechar-se ainda mais. 1968 foi o ano do AI-5 e do aumento da violência clandestina, nos porões do Estado e nas obscuras cavernas ocupadas pelos resistentes.
1968, de maio a dezembro, jornalismo, imaginário e memória (2018) é uma edição da Sulina organizada por Juremir Machado da Silva, Álvaro Larangeira e Christina Ferraz Musse em que várias vozes tentam dar algumas ideias, por pesquisas históricas e levantamentos teóricos, sobre o que aconteceu no Brasil ao longo daquele ano.
O francês Michel Maffesoli, em “À guisa de prefácio”, começa com Flaubert via Walter Benjamin para concluir que Maio de 68 não foi uma ruptura, como quer a mídia historicizante; mas seus acontecimentos continuam a marcar nosso presente. Juremir Machado da Silva faz um caleidoscópio entre os intelectuais franceses da época para descobrir o que restou de maio de 68. Christina Ferraz Musse vê a fúria da juventude nos denominados “palimpsestos marginais” de Minas Gerais. Álvaro Nunes Larangeira desvela o obscurecimento duma época, escavando no dossiê dos mortos do regime, evocando, na frase final, o espectro de 1964 como algo que ainda pulsa, “na memória ou ao nosso lado”.
Depois as partes se alinham. O papel ambíguo da imprensa nas questões políticas e sociais. A criação dos imaginários nos golpes e contragolpes. A função da memória nos depoimentos daqueles que viveram aqueles tempos. Há o papel da imprensa em Porto Alegre, num trecho. Noutro trecho, o que fez a música naqueles anos que, agora distantes, parecem mágicos.
Costurado e penetrante, 1968, de maio a dezembro não abdica da generosidade do leitor para mergulho num passado que pode trazer luzes para interpretações do presente. “Maio de 1968 não morre, mas já não vive”, anota Juremir. E pergunta: “O que comunica?” Cabe-nos investigar, auxiliados pelas meditações deste livro de ensaios.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br