A mineira Petra Costa adota o tom do exílio para filmar Elena (2012), seu primeiro filme longo e que na verdade é um ensaio sobre a realização e a irrealização do artista a partir dos sonhos abortados da irmã da diretora, Elena Costa, aos 20 anos, em Nova York, no começo da década de 90; um estranho jogo de espelhos entre Petra, no início do milênio, e sua irmã, dez anos antes, vai sendo alimentado por este olhar de exílio que parte do jeito das imagens. Sem o exílio americano, de Petra, de sua irmã suicida, de sua mãe que se desespera da filha, Elena não teria sido este mesmo filme. Para Elena, como para Petra, fora da arte não há salvação; de uma certa maneira Petra dá seguimento ao projeto artístico de Elena, que vem do berço, das próprias raízes genéticas da mãe das duas, que também expõe a dor de seu rosto e de suas palavras no filme. Este documentário ensaístico produz um diálogo em que Petra busca sua irmã Elena, tentando, como dizia um antigo e belíssimo filme da alemã Margarethe von Trotta, pôr as irmãs na balança da felicidade.

E por aí entramos no terreno da extraordinária confecção estética de Elena. Como a citada Von Trotta e a belga Agnès Varda ou o francês Chris Marker, Petra exibe uma intensa experimentação em que palavras e imagens compõem o mosaico narrativo. Apesar de seu tema sombrio, do desejo de morte que atravessa seus esplendorosos enquadramentos, Elena permite ao observador entregar-se ao hino da vida através do cinema. Mesmo que a existência possa ser dolorida e apresentar curvas difíceis de transpor, é exultante poder contemplá-la com as armas cinematográficas de Elena. O astral fílmico gira para cima com o filme de Petra Costa, desde agora um marco do cinema brasileiro.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)