FILMES CLSSICOS NAS TELONAS: 3 TEMPORADA - SEMANA 3

O Cinemark exibir mais filmes clssicos consagrados por geraes. Nesta semana: A Felicidade No Se Compra

16/09/2014 15:48 Por Rubens Ewald Filho
FILMES CLÁSSICOS NAS TELONAS: 3ª TEMPORADA - SEMANA 3

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O Cinemark trará uma segunda temporada de filmes clássicos nas telonas dos cinemas. Depois do sucesso da temporada anterior, os filmes escolhidos foram:

O PODEROSO CHEFÃO: PARTE II - dias 6, 7 e 10 de setembro

A FELICIDADE NÃO SE COMPRA - dias 13, 14 e 17 de setembro

CHINATOWN - dias 20, 21 e 24 de setembro

GHOST: DO OUTRO LADO DA VIDA - dias 27 e 28 de setembro e 1 de outubro

NASCIDO PARA MATAR - dias 4, 5 e 8 de outubro

OS CAÇA-FANTASMAS - dias 11, 12 e 15 de outubro

Para ver quais as salas e horários, visite o site do CINEMARK

 

A cada semana traremos a resenha crítica completa de cada filme a ser exibido. Nesta semana:

 

Chinatown (Idem)

EUA, 1974. 130 min. Produzido por Long Road/Paramount/Robert Evans. Direção de Roman Polanski. Roteiro de Robert Towne. Fotografia de John A. Alonzo. Música de Jerry Goldsmith. Elenco: Jack Nicholson, Faye Dunaway, John Huston, John Hillerman, Perry Lopez, Diane Ladd, Roman Polanski, Darrell Zwerling, James Hong, Bruce Glover, Burt Young, Lance Howard.

 

Sinopse: Em Los Angeles, em 1937, o ex-policial que era sediado em Chinatown, agora detetive particular Jake (J.J.) Gittes é contratado por uma mulher para investigar seu marido que trabalha na Cia que traz Água e Força para a cidade. Um caso aparentemente simples que aos poucos se complica, quando se descobre que ela não é a esposa. 

 

Comentários: Eu assisti Chinatown  pela primeira vez numa viagem a Buenos Aires e não gostei, já era critico e não me conformei com minha atitude. Depois fui ver de novo e percebi que havia reagido como espectador comum, que rejeita um final não feliz tradicional, quando este era justamente uma das maiores qualidades do filme, fugir do convencional. Acabei fazendo a critica favorável na certeza hoje comprovada que este era um dos melhores filmes da época, e provavelmente a obra prima do gênero. Difícil de classificar, meio suspense, meio policial, muito mais próximo do Film-Noir dos anos 40, até mesmo com sua resolução trágica e pessimista.

 Muitos diretores já sonharam em fazer um Film-Noir moderno, ou seja, colorido, com técnica atualizada, mas respeitando o clima fatalista e em voga no cinema americano dos anos 40. Estranhamente, foi um polonês, Roman Polanski, que chegou mais perto com essa fita. Ela tem uma moral extremamente ousada, afirmando que “nas circunstâncias certas, qualquer pessoa é capaz de cometer qualquer coisa, seja crime ou pecado”. Recusando a facilidade,  é uma fita longa, complicada, com uma história cheia de meandros e reviravoltas que nem sempre o público é capaz de acompanhar. Aliás, exatamente como deve ser um autêntico “film-noir”.

O título é um pouco enganador, o máximo que se vê do bairro chinês são alguns letreiros e um pedaço de rua (a Chinatown famosa é a de São Francisco e não a de Los Angeles onde se passa a história). É muito boa a ideia dos letreiros em preto e branco com a tela na proporção antiga e não widescreeen, para só depois passar para o colorido, ainda assim, Polanski usa somente tons pastéis e cores neutras, como se estas fossem realmente as cores da década de 30, da Depressão. A música está igualmente bem colocada. O belo tema de amor, só aparece quando o relacionamento dos personagens se torna mais sério. Aliás, se sabe hoje que o diretor recusou a trilha musical original, por sugestão de seu amigo compositor Brosnilau Kaper que a achava muito ruim. Contrataram o famoso Jerry Goldsmith, que fez a trilha em apenas 9 dias, de uma incrível simplicidade, basicamente apenas um tema de piston. Mas que marcou o filme. Trechos da trilha original de Philip Lambro ainda podem ser ouvidos no trailer do filme.

A direção de Polanski é sem truques, limpa.  direta e ganha muito quando se fixa nos atores. Ele gosta de cenas longas com poucos movimentos da câmera mas adota sempre o ponto de vista do herói, quase sempre só sabemos o que ele sabe e vê. Por isso que Jake é filmado com tanta frequência de costas.  Há algumas cenas que se tornaram antológicas: o momento de amor no banheiro, a confissão aos tapas (que foram dados de verdade, quando não dava certo de outra maneira), o tiroteio final. John Huston, que na década de 40 fez a reputação em fita do gênero como A Beira do Abismo e Relíquia Macabra, interpreta o velho Noah, como se fosse quase como uma homenagem a ele.

O roteiro mistura corrupção política com crimes misteriosos, capangas sanguinários e finais surpreendentes. O detetive particular Jake Gittes, está na tradição do gênero: é honesto, tem seu código de honra e uma amargura no passado. Mas também é ingênuo (embora se ache muito esperto).  É curiosa a ideia de fazê-lo usar um curativo no meio da cara em grande parte da fita. Gosto particularmente da frase final: “Esqueça, é Chinatown!”. Mas as revelações finais foram na época chocantes, tornando o filme um estudo sobre as aparências. Nada é aquilo que parece ser, por trás de cada rosa, há o estrume que a faz crescer. Tal profundidade, tal fatalismo é fácil de se entender vindo de uma figura tão sofrida, tão soturna como Polanski. Este foi o filme que consagrou definitivamente Nicholson e trouxe outro belo trabalho de Faye Dunaway superando uma maquiagem ingrata e um personagem difícil (ela orientalizou seu rosto, enfeiando-o, usando um tipo de maquiagem que ela copiou de sua própria mãe). Ao ver o filme, a gente sente exatamente a emoção de se perder um amor, seja aqui ou em Chinatown.

Conta o roteirista Robert Towne (que fez depois Shampoo, Dias de Trovão, Missão Impossível 1 e 2) num featurette na edição em Blu-ray que a ideia do filme surgiu quando conheceu um policial que era sediado em Chinatown mas tinha ordens de não intervir ou interferir em nada. Por isso que escolheu o lugar para ser pano de fundo.  Certa época ele e Jack Nicholson haviam morado juntos e trocaram muitas ideias sob o projeto que originalmente seria uma trilogia sobre a cidade de Los Angeles, começando em 1937 e terminando em 53. A intenção é que elas fossem feitas com o intervalo certo entre elas (ou seja, os atores envelheceriam assim como os personagens). Mas cada vez que pesquisava o assunto, Towne ia descobrindo mais absurdos e escândalos na administração de LA (que sempre foi famosa por ser muito corrupta, tanto na policia quando dentre os políticos).

Para se ter uma ideia, nesta mesma edição em BD há um extra de uma hora e quinze sobre o tema, dissecando o assunto e mostrando Towne visitando o aqueduto original. Basicamente houve uma negociata. Os políticos resolveram ir buscar águas nas montanhas de Sierra Nevada/Owens Valley e trazerem a água para a cidade, tornando o lugar original um deserto e lesando os fazendeiros locais (de quem compravam as terras a preço de banana). É isso que o filme denuncia e que pode ser complicado para o leigo entender. O documentário é longo demais e tem uma trilha muito chat,a mas ao menos deixa tudo muito explícito. Era nesse tipo de jogada que está envolvido no filme Noah (Huston), o pai da heroína. Dizem mesmo que o roteiro foi aprovado pelo município porque eles tinham certeza de que o filme nunca conseguiria ser feito. Considerando que Los Angeles fica entre o oceano e o deserto a água é de fundamental importância até hoje. Ou ainda mais hoje em dia.

Towne afirma que sua motivação não foi política mas poética, pois sentia a falta dos odores, das coisas da infância que a cidade perdeu. Uma historia sobre a futilidade das boas intenções. Towne na época recusou fazer o roteiro da adaptação de O Grande Gatsby do produtor Robert Evans (Poderoso Chefão) e  o convenceu a fazer este projeto (ajudou que todos eram amigos próximos, trazendo de volta aos EUA o diretor Roman Polanski, que não queria voltar aos Estados Unidos porque lhe trazia lembranças da sua mulher Sharon Tate que fora assassinada quatro anos antes). Com relutância veio e aos poucos se envolvem na história. Fechou-se durante 6 semanas com Towne e assim mexeram no script. Eles não concordavam em algumas coisas, Polanski insistiu num encontro amoroso do casal para que tivessem intimidade e num final que não fosse feliz. Na verdade, no original havia uma narrativa em off por parte do Detetive (que foi eliminada) e no climax Faye matava o pai. (CUIDADO SPOILER). Foi Polanski que impôs que a cena final fosse em Chinatown (o que provocou a frase famosa) e terminasse daquela maneira (uma das coisa mais fortes do filme é a resolução da trama, coisa rara no cinema mesmo hoje  em dia, ou principalmente hoje em dia onde tudo ficou mais careta e moralista). Na cena final, a cena de transição teve que ser improvisada por Jack na ultima hora. Como diz Polanski, na vida real, muitas vezes o culpado sobrevive e não há justiça. Se fosse um final feliz, tudo seria esquecido no jantar depois do cinema. Desta forma, o espectador sai pensando perturbado e nunca vai esquecer o filme. Deu algo para eles pensarem.

Polanski elogia nas referidas entrevistas todo o elenco inclusive Faye Dunaway com quem teve brigas homéricas.  Ela se comportava como Diva mas o clímax foi quando na cena do jantar no Brown Derby, havia uns fios de cabelo que ficavam espetados e atrapalhavam a fotografia. Ele acabou por arranca-los e Faye fez um escândalo e gritaria que forçou o fim das filmagens naquele dia. Polanski lembra também que ele começou a rodar com o veterano Stanley Cortez que foi mandado embora porque era lento demais e substituído por John Alonzo . Mas que ele não se incomoda muito com iluminação, só faz questão absoluta de que fazer os enquadramentos, para ele a coisa mais importante do filme. Voltando a Faye, ela não aprovava os métodos grosseiros do polonês e ele reclamava dela por causa dos atrasos da maquiagem e mudanças no diálogo. Ali MacGraw estava prevista para estrelar o filme, mas quando largou o marido produtor Robert Evans por Steve McQueen foi despedida da fita . Jane Fonda recusou o papel.

Polanski que era ator desde os tempos de moleque na Polônia, faz uma ponta marcante e eficiente como o gangster (todo vestido de branco e é chamado de anão e corta o nariz do herói. Nicholson conseguiu fazer em uma única tomada a famosa cena em que ele é levado pela água do reservatório. Robert Towne ganhou o único do filme, o de roteiro. A fita foi também indicada como Melhor Filme, Direção, Fotografia, Música, direção de arte, figurino, montagem, trilha musical, Som Ator e Atriz. Ganhou Bafta de ator, direção e roteiro, Globo de Ouro de filme, ator, direção e roteiro.

Este foi o último filme de Polanski nos EUA,  antes que pudesse completar outro, teve que fugir do país para não ser preso pela sedução de uma menor (e até hoje nunca mais pisou lá, morando desde então em Paris). Chinatown todos concordam não conseguiria ser feita hoje em dia. Os produtores obrigariam a ter um final feliz e uma conclusão mais amena.  O próprio Jack Nicholson estrelaria e  dirigiria a continuação tardia em 1990, A Chave do Enigma (The Two Jakes) que foi um grande fracasso.

 

Curiosidades: Roman Polanski recusou o tom avermelhado e escuro no estilo Chefão que o produtor Evans quis impor. A frase “Esquece  Jake, é Chinatown." Foi votada como a  #74 frase mais famosa do cinema pelo American Film Institute. Na lista dos melhores de todos os tempos ficou em vigésimo primeiro e no gênero Mistério ficou em segundo lugar. Alguns elementos do roteiro original foram incorporados ao filme Roger Rabitt, que deu uma visão de fantasia do mesmo material. Só duas cenas fotografadas por Cortes estão no filme (a luta no laranjal e a volta de carro para Los Angeles no por do sol). O título enigmático já foi explicado como querer dizer ”fracasso, má sorte, ou uma coisa que você não consegue entender direito”.

O roteiro hoje em dia é considerado um dos mais perfeitos e usados em escolas e seminários. Na época da filmagem Jack Nicholson estava de caso com a filha dele, Anjelica Huston. Numa cena, Noah (Huston) pergunta para Jack (“do you sleep with my daughter?”/ O Sr dorme com minha filha)" Polanski não queria cortar seu cabelo longo para sua cena no filme.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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