Irmas Diferentes e Separadas
O roteiro de A vida invisivel retrata as trajetorias separadas de duas irmas diferentes
As relações humanas se exacerbam nos filmes do cineasta brasileiro Karim Aïnouz. Definido pelo realizador como um “melodrama tropical”, A vida invisível é um dos filmes de imagens mais “quentes” do cinema brasileiro; debruçando-se sobre uma certa brutalidade de filmar que inclui sequências de sexo duras e despudoradas, carregadas de tensão física que dispensa qualquer afetividade, e algumas cenas indigestas de família patriarcal, o novo trabalho de Aïnouz reedita a sensualidade visual que se observara em O céu de Suely (2006) e Praia do futuro (2014) —tudo agressivamente sedutor.
O roteiro de A vida invisível retrata as trajetórias separadas de duas irmãs diferentes. Eurídice é a artista: uma sensível pianista. Guida é mais vulgar: foge de casa com o namorado canalha e, retornando grávida ao lar, é expulsa pelo pai rude. Eurídice vai fazer carreira em Viena, na Áustria. Guida cai na vida. As cartas de Guida para Eurídice (cartas que nunca chegam à destinatária) costuram a narrativa ao longo dos anos em que se passa a história. O amor desesperado entre as irmãs que já não se veem assinala o ritmo de A vida invisível. Carol Duarte e Julia Stocker compõem com sensibilidade estas criaturas femininas; mas o marco é outra vez Fernanda Montenegro, que faz Eurídice na velhice e atinge um alto grau de comoção no momento em que lê as cartas não chegadas de Guida, diante da família.
Tivemos alguns filmes sobre irmãs diferentes no cinema brasileiro; irmãs como em Entre irmãs (2017), de Breno Silveira, ou seres que na imagem funcionam paralelamente como irmãos, assim em As duas Irenes (2017), de Fábio Meira. A vida invisível entra neste recado fraterno com raro brilho.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br