Um Pouco do Cinema Frances no Hollywoodiao

William Friedkin fez de Operacao Franca um sucesso comercial com a habilidade para as sequencias da acao

13/06/2022 11:59 Por Eron Duarte Fagundes
Um Pouco do Cinema Frances no Hollywoodiao

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Em Como a geração sexo-drogas-e-rock’n’roll salvou Hollywood (1998) o ensaísta norte-americano Peter Biskind expõe a decadência e a depressão estéticas de alguns característicos cineastas duma geração intermediária do cinema americano que pode irritar os admiradores mais devotos destes realizadores. Entre estes diretores que enfrentaram a crise do fim dos anos 70 estava William Friedkin, um destes caras que nunca soube bem se o que queria no cinema era ganhar dinheiro ou entregar-se a um projeto artístico (e na verdade estas intenções iniciais ou finais pouco importam em cinema, mas a verdade é que ele se meteu por suas declarações nestas discussões).

Operação França (The french connection; 1971) foi o primeiro ponto de conflito desta dubiedade de Friedkin. O que fez de Operação França um sucesso comercial é a habilidade de Friedkin para as sequências da ação, entre elas a notável perseguição que um carro dirigido por Gene Hackman imprime, sob viadutos urbanos, a um trem manipulado por um criminoso (antes de Friedkin, o inglês Peter Yates executara uma cena de perseguição de carros em Bullitt, 1968, de maneira esteticamente mais contundente que esta que fez tanto alarde em Operação França). Mas o próprio Friedkin reconheceu na época o tributo que seu filme deve às técnicas documentais, a câmara no encalço dos cenários e dos atores como faziam os homens da nouvelle vague francesa. Como muitos americanos de sua geração, e a despeito de sua intensa americanidade, Friedkin era obcecado por franceses, e tanto que em Operação Françao alvo de sua caçada cinematográfica e policial é um traficante francês vivido pelo espanhol Fernando Rey (que chegou ao elenco por equívoco, o ator solicitado era o espanhol Francisco Rabal, de A bela da tarde, 1967, do espanhol Luis Buñuel); e no fim da década de 70, como observa Biskin, Friedkin, impossibilitado de casar com Godard ou Truffaut, casa-se com a musa daquela geração, a francesa Jeanne Moreau.

Operação França baseia-se num romance de Robin Moore, cujos episódios têm base real. Curiosamente, na época do sucesso do filme, Friedkin afirmava; “Estou fazendo filmes comerciais. Estou fazendo produtos concebidos para as pessoas comprarem.” Ao mesmo tempo em que teorizava sobre estética cinematográfica que pouco ou nada tinham a ver com esse público a que ele se referia, reflexionando sobre a dialética entre o documentário de Godard e os voos imaginativos de Fellini como pulsos de seu cinema, o cinema de Friedkin. O que sobrevive em Operação França é o frescor duma história contada de maneira sedutora e a utilização hábil dos contrapontos de personagens (o detetive americano Jimmy Popeye Doyle e o mafioso francês Charnier, por exemplo). O que pode ter envelhecido é a superficialidade modelo anos 70 da ação cinematográfica em Friedkin. Destaque para as nuanças fotográficas de Owen Roizman e para, apesar das vertiginosas correrias dentro de cena, a intensidade e veracidade com que as reconstituições policiais são encenadas (diz-se que os policiais Eddie Egan e Sommy Grosso, que aparecem no filme como policiais mesmo, ajudaram Friedkin a estruturar este lado mais escrupulosamente verista, ao modo francês, no roteiro).

Fridekin pode não ser o grande artista que em algum momento se julgou, especialmente quando Operação França bateu no Oscar a Laranja mecânica (1971), do americano Stanley Kubrick, mas certamente é um cineasta que interessa.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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