A Literatura: Personagem

A Amante de Proust capta um pouco a percepcao: todos somos amantes de Proust; os que amam sua literatura

20/03/2023 03:45 Por Eron Duarte Fagundes
A Literatura: Personagem

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A paixão pela arte é o tema central da produção literária de Gilberto Schwartsmann. A amante de Proust (2022) é um romance de ensaios, em que, na maioria das vezes, o autor, ou seu narrador, tergiversa sobre o fazer literário do escritor francês Marcel Proust, à luz da gênese histórica da crítica proustiana refeita com pessoalidade por Gilberto; aqui e ali há desvios para outras meditações em torno da literatura, mas sempre tornando ao ponto central, que é Proust. Ao fazer da arte o próprio tema de sua escrita, Gilberto põe, em A amante de Proust, uma espécie de vontade perpétua que é estabelecer certas conceituações estéticas que se enraízam na sensibilidade do leitor, contribuindo com os contatos com a literatura que exercitamos cotidianamente. O lado bastante ensaístico da ficção (por vezes mirabolante) elaborada por Gilberto pôde antes ser encontrado em Max e os demônios (2020), um autoensaio que permite sua leitura como romance, , e no drama teatral O sol brilhou na Currupina (2022). Em ambos o que temos é uma ode a um meio de expressão artística. A amante de Proust sofistica essa ode, fazendo com que “a arte é uma metáfora da elevação”.

Para sua “busca de um tempo que valesse a pena ser desejado”, Gilberto se traveste de uma possível amante de Marcel Proust que parece extraída de um dos capítulos dos longos textos proustianos. Quase no fim, Gilberto se despe das vestes que usou ao longo do filme e assume sua identidade como autor e narrador, um brasileiro que “imagina encontrar um pouco de felicidade através da arte de escrever”. Ao tornar-se Gilberto (ou voltar a sê-lo), o autor de A amante de Proust, o narrador desfaz a ilusão da amante de Proust que até ali narrava o livro, com digressões factuais e ensaios. O leitor, que acompanhava aquela amante proustiana que na verdade teria sido amante de vários intelectuais e artistas franceses do século XX, sai da inocência de ler pelas mãos dum escritor sinuoso como Gilberto Schwartsmann, que antes, no citado em Max e os demônios, criara uma autopersonagem que era parente de todos os ilustres do século. Schwartsmann brinca com esta megalomania paranoica que invade suas criaturas. Denso e refinado, este romance-em-pensamento que é A amante de Proust mostra novamente a soberania da palavra de Gilberto, mesmo tratando dum assunto tão elevado e com o qual dialoga sem temores. A amante de Proust capta um pouco esta percepção: todos somos amantes de Proust; os que amam sua literatura.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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