EM DVD: A Historia de Louis Pasteur
Em 1860, o cientista e quimico frances Louis Pasteur (Paul Muni) estuda uma forma de diminuir a morte de mulheres durante o parto e de rec?m-nascidos por infeccoes
A História de Louis Pasteur (The story of Louis Pasteur). EUA, 1936, 87 minutos. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por William Dieterle. Distribuição: Classicline
Em 1860, o cientista e químico francês Louis Pasteur (Paul Muni) estuda uma forma de diminuir a morte de mulheres durante o parto e de recém-nascidos por infecções. Publica a “Teoria dos Germes”, explicando aos médicos formas de esterilização de equipamentos cirúrgicos e higiene dos locais. No entanto, a academia médica não dá a devida importância para ele. Uma década depois, rebanhos de ovelhas em várias regiões da França morrem por causa de um vírus, exceto naquela parte do país em que Pasteur desenvolveu uma vacina e a aplicou nos animais. Novamente ele é descredibilizado. Mas aos poucos a França reconhece seu trabalho pioneiro com vacinas e no tratamento de infecções.
Nascido na Alemanha, o diretor William Dieterle realizou duas cinebiografias premiadas para os estúdios da Warner Bros: “A história de Louis Pasteur” (1936) e “A vida de Emile Zola” (1937), ambas protagonizadas por Paul Muni. Muni recebeu o apelido de “rei das biografias para cinema” durante a Era de Ouro de Hollywood, por interpretar personagens reais em drama sociais de forte contestação. O ator austro-húngaro fez, por exemplo, só na Warner, três filmes sequenciais contando histórias verídicas de líderes rejeitados devido a seus inventos extraordinários ou pela visão de mundo - e que foram perseguidos por seus posicionamentos políticos: os já mencionados Pasteur e Zola, e depois o drama “Juarez” (1939), onde interpretou Benito Juárez, chefe indígena mexicano que foi cinco vezes presidente do México. Zola, vale destacar, foi mal interpretado pelo público, na época, pois foca no lado ativista do escritor francês de “A besta humana”, quando redigiu a famosa carta “J’accuse” (“Eu acuso”), escrita para defender um capitão da artilharia francesa de origem judia erroneamente acusado de traição em 1894 – o que ficou conhecido como “Caso Dreyfuss”, um dos erros mais terríveis do judiciário mundial. Muni também fez a primeira versão de “Scarface”, cujo subtítulo era “A vergonha de uma nação” (1932), seu filme mais notório na linha policial, depois refilmado por Brian De Palma com Al Pacino no início dos anos de 1980. Muni virou um rosto muito conhecido nos anos de 1930 e 1940, e por Louis Pasteur, ele venceu como melhor ator no Festival de Veneza e o Oscar – ainda no Oscar, a produção recebeu outros dois prêmios, nas categorias de roteiro e história original/argumento (categoria que não existe mais).
Dieterle realizou aqui um bom filme que resgata a trajetória de Louis Pasteur (1822-1895), com forte comentário crítico e político (o popular estúdio da Warner desafiava as regras da época, enfrentando um sistema de censura que contaminou a indústria de Hollywood entre os anos de 1930 e 1950). Na história, contada com mínimos detalhes, mostra Pasteur rejeitado pela Medicina que aos poucos desenvolveu métodos pioneiros de eliminar infecções em ambientes hospitalares. O reconhecimento das técnicas se deu décadas e décadas posteriores, quase próximo de sua morte, o que o levou a intensas discussões com a academia médica, sem contar uma angústia feroz que o deprimiu.
O diretor William Dieterle começou como ator de teatro no país natal, na década de 1910, depois apareceu em filmes de F.W. Murnau, e aos 30 anos, em 1923, dirigiu seu primeiro filme, o primeiro com Marlene Dietrich, em terras alemãs, até ser chamado para trabalhar como diretor e ator nos EUA em 1930. Realizou 60 longas nos EUA, entre romance, dramas sociais, comédias e filmes de ação, com uma perceptível direção própria. Foi perseguido pelo Macartismo no começo dos anos 1950, teve os documentos pessoais e passaporte cassados e foi banido por ser considerado comunista. Mudou-se para a Europa onde realizou filmes e telefilmes na Alemanha e na Itália. Retornou com poucos recursos aos EUA, isolado de todos, e morreu na Alemanha em 1972, aos 79 anos, deixando um extenso legado de filmes inteligentes, à frente de seu tempo.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com