Apenas o Fim do Mundo
Ausente h 12 anos, Louis (Gaspard Ulliel) retorna para a casa da famlia para comunicar que est morrendo de uma doena incurvel.
É Apenas o Fim do Mundo (Juste la fin du monde). Canadá/França, 2016, 97 min. Drama. Colorido. Dirigido por Xavier Dolan. Distribuição: California Filmes
Dois anos atrás assisti no cinema a esse penúltimo trabalho de Xavier Dolan, para mim o melhor de sua carreira ao lado de “Amores imaginários” (2010) e “Mommy” (2014). Saí da sala com a voz embargada, emocionado como todos os presentes na sessão. E recentemente comprei o DVD, lançado pela California Filmes, para uma revisão, que ficou ainda melhor. Que filme sublime!
Apontado como o cineasta mais promissor do Canadá da geração atual, o jovem Xavier Dolan, que é ator, tem apenas 29 anos (ele nasceu no mesmo dia e mês que eu, 20 de março) e realizou sete filmes até agora - seu novo trabalho, intitulado “The death and life of John F. Donovan”, foi exibido no Festival de Toronto em setembro, ainda sem previsão de estreia no Brasil. Dolan é um criador de imagens fortes e provocativas, escolhe as próprias músicas da trilha sonora, dá espaço para todos em cena. Os coadjuvantes têm uma força brutal até maior que os protagonistas em suas histórias (sempre envolvendo conflitos na família), com destaque para o papel das mães, recorrentes em suas produções – são mulheres de meia idade, com roupas extravagantes, à beira da explosão, e aqui, nesse filme fora do comum, Dolan volta a adentrar o seio das relações familiares.
“É apenas o fim do mundo” têm personagens de muitas camadas em uma história dura, de uma família em colapso. Primeiramente é mostrado o jovem Louis, que volta para casa para um comunicado derradeiro: que sofre de uma doença terrível (nunca sabemos qual é ela), e tem pouco tempo de vida. Ele chega para uma visita, e ninguém imagina o motivo de ele estar ali. A família demonstra surpresa. Porém Louis não consegue dar a trágica notícia, ele tem dificuldade em se expressar e ao mesmo tempo na família só há gente brigando, discutindo, falando alto sobre outros assuntos fúteis.
O rapaz apresenta um grau moderado de nostalgia, identifica-se imediatamente com a esposa do irmão (Marion Cotillard), única que o entende, e os dois são os mais lúcidos de uma família à beira do caos. O irmão, mais velho (Vincent Cassel), é um sujeito irritado e grosseiro, que alfineta um a um. Tem ainda uma irmã passiva (Léa Seydoux) e, claro, a mãe (Nathalie Baye), sustentáculo da casa, meio desmiolada, também explosiva. Nessa volta para casa, a identidade de Loius se revela, assim como partes do passado, em flashbacks, luzes e apagões - ele é um dramaturgo que tentou a vida na arte, vive em outro país, agora ficou doente.
O tema do filme é a falta do diálogo na família, algo recorrente nos dias de hoje. Ninguém da casa dá ouvidos para o que o jovem (que está morrendo) tem a dizer, ao mesmo tempo em que ele sofre com um medo duplo medo: o de contar sobre a doença fatal e de como os familiares vão reagir. Obra máxima de Dolan, muito necessária para o tempo atual, que nos comove e provoca lágrimas.
Baseado numa peça biográfica de Jean-Luc Lagarce, recebeu indicação à Palma de Ouro em Cannes, e no mesmo festival ganhou o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio Ecumênico.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na rea de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semitica e Histria da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso tcnico de Arte Dramtica no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantm as colunas Filme & Arte, na rede "Dirio da Regio", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatrio da Imprensa e para o informativo eletrnico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canad). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rdio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notcia da Manh. Ex-comentarista de cinema nas rdios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como jri em festivais de cinema de todo o pas. Contato: felipebb85@hotmail.com