A Poesia e a Rebeldia

Juremir Machado da Silva faz do instrumento poetico aquilo que a poesia representa nos dias de hoje, atos de rebeldia

25/02/2025 02:10 Por Eron Duarte Fagundes
A Poesia e a Rebeldia

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Juremir Machado da Silva faz do instrumento poético aquilo que a poesia é nos dias de hoje, atos de rebeldia. Vendo sonhar em Palomas (2024) está repleto de imagens que somente a literatura de Juremir (e isto ele o faz desde sua obra em prosa) logra criar para os tempos sem inspiração que vivemos; seus versos são gestos que transbordam do mundo das palavras. Às vezes este leitor que aqui trafega se indaga como Juremir sai da prosa para a poesia, como se desloca do universo racional de ensaios e romances para estes aparentes aspectos instintivos do construir poemas, como passamos duma coisa à outra, então assalta uma ideia que é percepção, a poesia é a alma de toda a construção literária de Juremir, mais se dirá que a poesia (como materializada numa luz rebelde do cérebro) determina a própria estrutura de vida e os trajetos de Juremir como professor, jornalista, escritor.

Então chegamos ao revelador poema “Inventário”. “Primeiro me tiraram a voz, / Depois me cortaram os dedos”. Nos tempos de sombras, Juremir perdeu primeiro a criação radiofônica, um dos mais belos programas de rádio que era sua cara. A segunda demissão foi do jornal: cortar os dedos. A constatação amarga: “Eu só tinha passagem de ida / Nunca mais voltaria a cantar.” Empurrado para a clandestinidade, o poeta ressurge em versos. Os versos são o sangue contemporâneo. Em vários momentos estes versos (livres como nunca mas nunca perdendo o ritmo poético) exuberam, têm a carnalidade das palavras, essas palavras. “Bebi tantas vezes no cálice feminino, / À sombra trêmula e fria dos girassóis, / Esse ouro vegetal da nossa alquimia, / Enquanto o céu ardia na descida do sol, / E a fúria do vento castigava os campos.”

Depois do jornalismo, depois do romance (coisas que ele ainda domina como ninguém), o autor, nesta de “o corpo pode ir aos confins do espírito’, vai desembarcando em suas origens: o poema; e o poema como enfrentamento do mundo sem sonhos, um mundo longe de Palomas. “Sei que era em Paris, quinta-feira.” Na “alegria de ainda existir”, saltitam algumas referências do que certa vez Antonio Candido, se bem me acode a memória, chamou “patrimônio cultural”, o poeta evoca ao acaso uma novela de Erico Verissimo (“Música ao longe, tão perto”, o paradoxo), um filme antigo (“Carruagens de fogo ao léu”, rima instintiva), tudo para costurar a criatividade poética.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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