RESENHA CRTICA: Tim Maia, O Filme
Tem tudo para fazer sucesso, s precisa da boa vontade do pblico
Tim Maia, O Filme
Brasil, 2014. 140 min. Direção de Mauro Lima. Com Babu Santana, Robson Nunes, Alinne Morais, Cauã Reymond, Laila Zaid, Valdinéia Soriano, Paulo Carvalho, Bryan Ruffo, Luis Lobianco, George Sauma, Tito Naville, Renata Guida
A biografia de ídolos da musica popular brasileira, de preferência mortos, tem sido a inspiração para os diversos personagens (às vezes até duas vezes, num documentário como sucedeu com Raul Seixas, e depois numa ficção onde Seixas aparecia como a figura mais importante da biografia do escritor Paulo Paulo Coelho, no subestimado Não Pare na Pista). Naturalmente o pioneiro em ressuscitar o gênero foi o melhor deles, Os 2 Filhos de Francisco: A Historia de Zezé Camargo e Luciano, de Breno Silveira (05), que depois disso investiu no gênero ainda com A Beira do Caminho, 12 (canções eram de Roberto Carlos, não vida dele) e Gonzaga de Pai para Filho, 12.
Por outro lado, também descobriram o filão no palco, onde já havia feito a vida de Cazuza (Cazuza: O Tempo Não Para, 04, que atualmente tem nova versão para teatro de boa qualidade) e a de Tim Maia, que foi um enorme sucesso, usando como base a mesma biografia de Nelson Motta. Foi esse show Vale Tudo que revelou justamente o neto de Silvio Santos, Tiago Abravanel (que não está neste filme, não sei porque, mas foi substituído por dois atores, talvez porque cinema é mais realista, um mais velho outro mais novo). Talvez porque Tiago é mais doce, menos adequado para fazer o mau humorado compositor. De qualquer forma, depois que Tiago criou o papel, atrás dele vieram outros que o interpretam bem como é o caso de Robson Nunes, quando jovem, e Babu Santana, como adulto.
Quem dirige é Mauro Lima (que se deu bem com Meu Nome não é Johnny e é melhor se esquecer do posterior Reis e Ratos). Ele colocou Cauã Raymond de narrador, não caprichou especialmente no visual (por vezes feio), mas o filme vai pegando ritmo e fôlego e se aproveita do ritmo contagiante de Tim.
Tem tudo para fazer sucesso, só precisa da boa vontade do público, ultimamente arredio ao cinema nacional que não é comedia (Ah, Tim também era uma grande figura, muito engraçada).
Foi só checando as salas que estavam lançando o filme que caiu a ficha. O filme esta destinado ao fracasso. Foi só colocado em sessões alternativas em salas menores que não vão render nada que preste. E por um razão, os filmes são censurados ate 16 anos porque essa é a norma da Federal ou coisa que o valha, que faz a classificação e já se sabe que quando o filme tem muita droga, não há como escapar. É só para maiores. Ou seja, os garotos podem matar impunemente, mas não podem ver o filme.
De qualquer forma, essa foi uma opção do diretor (que também na coletiva fez uma coisa feia, alegando cansaço parou as conversas com o jornalismo no meio e foi embora. Vá fazer isso nos EUA que ele acabaria não só processado como na rua da amargura malhando pela Imprensa pro resto da vida. Aqui somos ingênuos demais para isso). Enfim, enquanto o musical era um show alegre, divertido e de onde você saia feliz, aqui é um filme longo demais, interminável, redundante que parece ter prazer em pintar o lado negro (ruim) do herói. Se a principio há bastante humor e sacadas engraçadas, isso vai sendo deixando de lado e Tim vai ficando cada vez mais chato, fazendo besteira, mergulhando na droga, entrando em erradas (como na historia de ficar acreditando numa seita de extraterrestres). Tudo isso podia ter sido reduzido e mesmo satirizado. Mas acaba ficando ate parecendo um castigo por seus excessos.
Até que Cauã se sai bem como o colega músico, um tal de Fabio (não o reconheci), num papel de apoio muito difícil. Ingrato. Mas o que fizeram com Roberto Carlos é insultuoso, colocaram uma peruca que o deixa com jeito feminino, uma voz fina, um perfil nada simpático. Alinne Moraes é uma bela mulher e segura como a mulher da vida de Tim. Também Robson e Babu cumprem muito bem seu papel.
Mas há excesso de enredo,de cenas de prisão, de consumo de droga, de tentar o sucesso. O público gostaria de mais musica e menos tragédia.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.