Salve Versátil ! Ainda bem que resiste!
A distribuidora tem lançado obras incríveis e importantes, como Fedora de Billy Wilder
Faz tempo que a distribuidora Versátil esta merecendo este louvor. Enquanto tudo está desmoronando no que outrora foi o feliz e eficiente mercado de Home Video (as principais locadoras já fecharam as poucas que resistiam devagar vão fechando). Com as distribuidoras tendo sido ainda mais cruel, confirmando a noção de que o disco Blu-Ray não pegou como se torcia. E praticamente a Livraria Cultura passa ocupar um espaço grande com lançamentos exclusivos e a rede Saraiva se esforça muito em ter preços e ofertas mais acessíveis.
A Versátil que sempre foi dedicada ao cinema de arte e os clássicos também tem sido a fornecedora dos clássicos da Folha. E durante este ano incrementou seu acervo lançando títulos de filmes de Samurais (seis filmes por boxe, a preço acessíveis, cópias ótimas, títulos raros (sem contar os de Kurosawa, que tem tido destaque especial como a obra-prima Trono Manchado de Sangue!). Eles adotaram o recurso que me parece muito bom (e que tem sido usado em países como Inglaterra) de unir diferentes filmes baixando enormemente o custo.
E mesmo eu que tive pouca chance de ver os samurais japoneses (morava em Santos e não tinha idade para segui-los) estou me deleitando com preciosidades do gênero (outras coletâneas tem sido feitas com Filmes Noir e uma coletânea de dramas sobre a Primeira Guerra, que traz A Grande Ilusão de Renoir, O Rei e o Cidadão de Losey, mas outros ainda mais raros, ambos obras-primas, como Guerra, Flagelo de Deus de Pabst (30) e Cruzes de Madeira,33 de Raymond Bernard. Desse mesmo diretor saiu outro grande filme, a versão mais famosa de Os Miseráveis com Harry Baur, Charles Vanel e Jean Servais (em dois DVDs porque é em três épocas, ou seja três filmes diferentes).
Fedora de Billy Wilder em DVD
Fiquei especialmente feliz em descobrir pela primeira vez no Brasil, o penúltimo filme do genial Billy Wilder e seu trabalho menos conhecido. Nunca estreou em nossos cinemas (foi feito com dinheiro alemão e não foi sucesso, então nem foi importado, a Bandeirantes o exibiu uma vez já que tinha uma tradição de passar filmes originais e diferentes) e Wilder faria ainda outra comédia com Lemmon e Matthau, nada pessoal. Ainda por cima chega em cópia restaurada.
Fedora é uma espécie de réplica a Crepúsculo dos Deuses, quase continuação. Infelizmente o tempo era outro e não havia mais estrelas como antigamente (o filme é de 78). O argumento original é do astro de cinema e escritor Tom Tryon (O Cardeal, autor de A Inocente Face do Terror). É sobre um produtor independente (William Holden, já muito envelhecido) que tenta conquistar de volta para o cinema uma lendária estrela chamada Fedora, que vive isolada do mundo famosa por nunca envelhecer (naturalmente o modelo seria a Garbo, que não quis participar da aventura) . Mas Holden acaba se envolvendo com os amigos dela que vivem numa ilha grega e revelam-se os segredos, que não posso desvendar aqui. Marthe Keller que faz o papel central titulo, comenta que o filme na época foi mal porque foi considerado antiquado e justamente hoje é cultuado pela mesma razão. É inteiramente Cult, realizado por uma equipe do que havia de melhor começando pelo diretor de arte europeu genial Alexandre Trauner , o compositor Miklos Rosza, o fotógrafo Gerry Fisher.
Infelizmente Wilder não conseguiu resolver o problema de escalação de elenco, até porque em 78 já não haviam mais as Stars lendárias, ele teve que solucionar com o que conseguiu e infelizmente não correspondem (embora Marthe no Making of, aliás excelente chamado O Canto do Cisne, de hora e meia, ela se mostra inteligente mas sem talento. Não tem fôlego para imitar Garbo ou Marlene). Não é tudo perfeitinho como no Crepúsculo, apesar do elenco que traz ainda os astros Henry Fonda, a alemã Hildergard Kneff, Mario Adorf, José Ferrer. Um caso a parte é Michael York (imortal por Cabaret) que aparece muito no documentário. Mas ele sofre de uma doença terrível e raríssima chamada Amiloidose, que o deixou irreconhecível.
Mesmo com as imperfeições, assisti atento ao “canto do cisne” do mestre. Imperfeito mas fascinante.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.