Crimes Ocultos (Child 44)
O filme trata de uma nova versão de uma velha história e de um fato real
Crimes Ocultos (Child 44)
EUA, 15. 137 min. Direção de Daniel Espinosa. Roteiro de Richard Price baseado em livro de Tom Rob Smith. Com Tom Hardy, Gary Oldman, Vincent Cassel, Paddy Considine, Noomi Rapace, Joel Kinnaman, Fares Fares, Karel Dobrey, Jason Clarke, Charles Dance.
Foi um tremendo fracasso de bilheteria este thriller policial (que não rendeu mais do que um milhão e duzentos mil dólares e no exterior pouco mais de 2 milhões. Não fornecem o orçamento dele) dirigido por um certo Daniel Espinosa e que foi basicamente rodado na Republica Checa em Praga (e não na Rússia). Daniel apesar do nome é sueco e veio de um filme de ação razoável (Protegendo o Inimigo, Safe House, com Denzel Washington). Para mim, o maior problema é outro, os que tem boa memória irão perceber que se trata de uma nova versão de uma velha história e de um fato real. E sua maior glória é ter sido proibido na Rússia, o que não é difícil de suceder na atual ditadura.
Cidadão X (1995) de Chris Gerolmo, foi produzido originalmente para a televisão fazendo a cobertura da investigação do célebre serial killer soviético chamado Andrei Chikatilo, vivido no filme por Jeffrey De Munn (no elenco estavam Donald Sutherland, Max Von Sydow, e Stephen Rea) e que foi condenado em 1992 de ter matado 53 mulheres e crianças entre 1978 e 1990. Basicamente contava a história da caçada que durou sete anos liderada pelo especialista Viktor Burakov (Rea) em busca da pessoa que mutilou e assassinou mais de 50 pessoas dos dois sexos (35 deles com menos de 18 anos). Ele é ajudado por seu chefe Col. Mikhail Fetisov (Sutherland) e depois pelo psiquiatra Dr. Alexandr Bukhanovsky (Sydow). Foi indicado ao Globo de Ouro de melhor minissérie e Donald Sutherland foi votado o melhor ator. Também levou o Emmy (teve indicações de elenco, direção, montagem, coadjuvante De Munn, telefilme, roteiro). Também foi premiado pelo Sindicato dos Roteiristas, nos Festivais do Cairo, Sitges, Cairo. Naturalmente o livro de Tom Rob foi inspirado diretamente neste killer e na verdade não traz nada de muito novo ou especial. O telefilme já denunciava a burocracia e propagandas soviéticas como terem contribuído a capturar o assassino, já que um sujeito desses não poderia existir num país comunista! Além disso, ele era membro do Partido. Isso só mudou com a glasnost e Perestroika, mas como se pode perceber nem tanto assim...
Esta versão é inferior apesar de ter um roteiro de um escritor reconhecido, Richard Price (que escreveu o roteiro de A Cor do Dinheiro, Irmãos de Sangue, de Spike Lee, O Preço de um Resgate, com Mel Gibson). Reuniram um elenco de qualidade embora alguns deles em pouco mais do que pontas (Charles Dance, Gary Oldman) e o papel central para o astro do momento, o Mad Max Tom Hardy. O francês Vincent Cassel substituiu Phillip Seymour Hoffman.
Co-produzido por Ridley Scott, houve um incidente no meio da filmagem quando foi despedido o fotógrafo Philippe Rousselot e entrou Oliver Wood. Nesta versão Hardy em 1953, faz um agente da polícia secreta soviética que não quer denunciar sua esposa (a sueca Rapace como traidora). Mandado para o interior como castigo, resolve investigar uma série de assassinatos de crianças perto da linha férrea.
Pode escolher outras razões levantadas pela crítica para não gostar do filme: ser longo demais, ter a cena sexy menos sensual do cinema, os piores sotaques, uma infeliz luta na lama. Sua maior qualidade é ao menos tentar tocar no assunto desprezado e imensamente trágico, os crimes cometidos pelo ditador e monstro Stalin. Os crimes que cometeu são tão horrendos que nem nos países como Estados Unidos são divulgados inteiramente. Por vezes iguais ou pior dos que os de Hitler.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.