O Pensamento Cinematográfico Passado a Limpo
Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura (2003) diz a que veio desde seu título
O cinema inevitavelmente transformou o mundo a partir do século XX. Diz-se que o cinema começou verdadeiramente a era da imagem, e isto contém, na boca de alguns, um certo desdém, seria uma diminuição da inteligência em relação aos tempos anteriores, que seriam os tempos das palavras. Para gente como o crítico francês Antoine de Baecque esta dicotomia entre a palavra e a imagem não existe. “Para mim, o prazer do leitor acompanhou o do espectador”, anota Baecque.
Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura (2003) diz a que veio desde seu título. Mostrar, pelo exame de ensaístas (todos franceses) de cinema, como se estruturou um pensamento cinematográfico ao longo do último século —ainda que este pensamento global tivesse seus tentáculos muito particulares. Uma maneira de ver o mundo só foi possível graças ao cinema. Um mundo cultural que estava oculto apareceu (ou reapareceu?) com a força das imagens. Baecque vai concluir seu livro com a evocação de Serge Daney, qualificado como “a memória melancólica das imagens”. É sempre assim: como olhar a história de cinema a que assistimos, junto com nossos pensadores de cinema favoritos, senão com a melancolia excitante de quem está partindo para outra coisa, como alguém que deixa inevitavelmente uma cidade muito amada?
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br