Rubens Fala Sobre a Critica

Neste texto REF relembra como iniciou a carreira e comenta sobre a profissao e suas origens

19/08/2019 20:52 Por Rubens Ewald Filho
Rubens Fala Sobre a Critica

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Nunca houve formação especifica para crítico de cinema... Há pouco eu dei aula no pós-gradução da FAAP para críticos, mas antes disso não lembro de nada. Na minha época eu lia revistas de cinema, que hoje também não existem mais, no mundo foi acabando e por aqui também. Duas me influenciaram muito, Filmelândia (que trazia os filmes novelizados não em quadrinhos mas como texto mesmo, como conto longo) e Cinelândia (esta se chamava fora Modern Screen, a outro screen stories, mas a Rio Gráfica Editora (da Globo atual), que as editava, dava um toque bem brasileiro, falava de diretores, de cinema europeu... Era bem boa. Hoje posso dizer que a minha formação foi mais de fã do que lendo crítica. Os Diários Associados tinham Dulce Damasceno de Brito em Hollywood e todo domingo tinha matéria dela, as vezes também no O Cruzeiro, principal revista. Nas revistas normais tinha gente escrevendo sobre cinema como Justino Martins, que cobriu o Festival de Cannes desde o primeiro e foi o primeiro responsável por ele ficar tão famoso aqui, escrevia para a Manchete.

Não lembro de ler crítico de jornal até ficar mais velho, já estudante... e ainda assim a influência vinha do Rio, acho que de Moniz Viana, que escrevia no finado Correio da Manhã. Mas era difícil conseguir o jornal. Mais tarde fiquei amigo do Rubem Biáfora de O Estado de S Paulo, que me influenciou mais com ideias do que como crítico propriamente dito.

Acho que minha influência veio de fora da Revista Cahiers Du Cinema, daqueles que depois viraram os diretores da Nouvella Vague, Truffaut, Godard e dos que escreviam na revista Esquire, como Peter Bognadovich.

 

- Em qual momento você decidiu que a crítica de cinema era a profissão que deseja seguir?

Na vida a gente não decide tudo assim. Vai acontecendo. A família era contra eu seguir qualquer carreira artística, se opunha a eu ser ator. Jornalista também não era muita coisa, mas como eu fazia mais duas faculdades juntas, o plano era ser diplomata, toparam (fazia História e Geografia de manhã, Direito às duas da tarde e Jornalismo à noite, que era mais curta, só três anos). Enfim foi nesta última que me dei melhor, fiz amigos. Antes disso, desde os dez anos de idade eu anotava todos os filmes que via nuns cadernos... aos poucos fui começando a fazer neles as primeiras críticas, cotações... claro que eram ingênuas, bem de acordo com a idade. Também anotava carreiras dos diretores e atores (começo do dicionário de cineastas), dava os prêmios como o Oscar... enfim, treinava sem perceber para ser profissional... pesquisava como um maluco (eheh)... quando me formei em jornalismo, um professor meu me chamou para escrever na A Tribuna de Santos onde estou até hoje. Isso foi em 67, no ano seguinte saí de Santos e vim para São Paulo, para o Jornal da Tarde, que época era o melhor jornal do Brasil...

 

- Como era fazer crítica de cinema no Brasil em seu início?

Na Tribuna antes de mim tinha uma senhora que falava dos filmes sem criticar nada... eles tinham medo da reação do exibidor local que era grande anunciante, mas nunca criaram problemas, quero dizer o exibidor me perseguiu de todas as formas, fez tudo contra mim e para eu ser mandado embora nestes anos todos... mas o jornal foi firme forte e honesto e por isso eu o respeito muito... Enfim, eu fazia críticas sempre pensando no leitor, nunca me achei dono da verdade, ser definitivo, era indicativo, conversava com o leitor. E tinha e tenho muito bom humor, coisa que falta nos outros (eheh), acho que na verdade falta em todos, inclusive os governantes... sem humor a vida é insuportável.

Bom, o fato de ser muito jovem (21 para 22 anos quando entrei na crítica) e saber já tudo, como sempre bastava dar o nome de um filme que eu já dizia se era bom, com quem, ajudava muito numa redação... não é como hoje quando ninguém sabe porra nenhuma nem se interessa em saber...

Mas a crítica brasileira começou de forma literária, cheia de pedantismos e frases em língua estrangeira, feita até por poetas como Guilherme de Almeida. Depois veio uma fase engajada onde foi dominada pelo Partido Comunista... populista mesmo... e eu sempre fui independente, nem de um lado nem de outro, amava o cinema italiano engajado, o francês, os musicais americanos, os filmes grandes (não tinha esse nome blockbuster), não importava e não havia preconceito. Nesse sentido foi uma inovação e contribuição minha...

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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