As Multiplas Caras no Jogo Cinematografico

Happy hour traz um movimento sutil e agudo no comportamento da camara, nas mutacoes cenicas

07/04/2022 17:33 Por Eron Duarte Fagundes
As Multiplas Caras no Jogo Cinematografico

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Happy hour (2015) foi realizado pelo japonês Ruysuke Hamaguchi antes que seu cinema passasse a chamar a atenção dos observadores com duas narrativas praticamente gêmeas, Drive my car (2021) e Roda do destino (2021). Em Happy hour ele radicaliza a extensão de um filme: vai a cinco horas e dezessete minutos para acompanhar, com rigor, profundidade e minúcia, a vida cotidiana e íntima de algumas personagens, principalmente quatro amigas (a enfermeira Akari, a curadora cultural Fumi, a dona-de-casa aparvalhada Sakurako, a divorciada Jun) que em várias sequências do filme são reunidas em cenários variados em que a câmara se debruça sobre os diálogos e as confissões que fazem umas para as outras. Hamaguchi põe a cara múltipla do cinema em seu jogo estético: faz render a realidade da encenação cinematográfica multiplicando os caracteres em cena e cruzando suas complexidades.

As ambientações em torno das quais circulam as situações dramáticas ou levemente humorísticas de Happy hour (um humor antigo, clássico, de feição mais intelectual que midiática), estas ambientações são muitas ao longo do filme. As primeiras imagens mostram duas mulheres que conversam dentro dum trem que está para atravessar um túnel. As falas abundam em Happy hour, trocando os cenários: o trem, o metrô, a estação de metrô, o carro, as mesas de refeições em casa ou em cafés, as ruas, a cidade e seu urbanismo colorido. Happy hour traz um movimento sutil e agudo no comportamento da câmara, nas mutações cênicas, nas conversações. Longo e reflexivo, o filme de Hamaguchi é um convite à hipnose da imagem, tão ritual e perfeito quanto pode ser uma narrativa oriental contemporânea.

A exasperação visual corre solta. A extensa sequência de workshop, em que o instrutor manipula o físico e a alma dos participantes, visando a encontrar o centro do ser é uma tergiversação extasiante em sua contemplação, quase despropositada. Também despropositada e cativante é a longa sequência em que uma escritora lê um texto seu numa espécie de conferência em que depois um apresentador e a plateia discutirão com ela as impressões de seu “retrato de mulher”. Estes processos aqui radicalizados, pela insistência na depuração da imagem, foram depois reconstruídos pelo cineasta em seus novos filmes. Em Roda do destino uma escritora exacerba na leitura dum trecho erótico vulgar de seu próprio livro. Em Drive my car trechos duma encenação teatral são ensaiados pelas personagens a bordo dum carro. Como todo grande criador, o japonês Hamaguchi refaz em cada filme suas obsessões para as caracterizar e aprofundar.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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