RESENHA CRTICA: Stonewall, Onde o Orgulho Comeou (Stonewall)
No uma obra de arte, muito importante e mesmo heroica a histria que conta
Stonewall, Onde o Orgulho Começou (Stonewall)
EUA, 15. 129 min. Direção de Roland Emmerich. Com Jeremy Irvine, Jonathan Rhys Meyers, Ron Perlman, Caleb L. Jones ,Joey King, Johnny Beauchamp, Caleb Landry Jones, David Cubbitt. O roteiro é de John Robin Baitz (que escreveu O Articulador com Pacino, The Substance of Fire e morou anos no Brasil!).
Este não é primeiro filme sobre Stonewall, o lendário bar do Village nova-iorquino na Christopher Street, onde começou em 28 de junho de 69 a reação dos homossexuais que resistiram a pedradas durante 3 dias contra os policiais que queriam fechar o lugar e prende-los. Um ponto de partida fundamental para todo o movimento gay no mundo todo (o bar ate hoje existe e pode ser visitado). Curiosamente este filme mesmo modesto (custou 13,5 milhões de dólares e foi um fracasso absurdo de bilheteria, não passando de 186 mil de renda!). Difícil explicar porquê. Talvez a antipatia pelo diretor alemão Emmerich (que é mais conhecido pelos blockbusters como Independence Day) ou a reação negativa da comunidade (ainda mais difícil de explicar porque) que detonaram com o filme. Que não é nenhuma maravilha, mas não me pareceu mau intencionado.
Houve outras versões sobre o tema. Em 1995, teve a versão homônima mas “ficcionalizada” de Nigel Finch, que registrou basicamente a mesma coisa que aqui, só com mais modéstia. E erros (situou a revolta em 65 e foi em 69!). E depois disso, um documentário seminal chamado After Stonewall, de John Scagliotti, de 99. Há uma lenda de que a luta em Stonewall teria começado justamente no dia em que morreu o maior ídolo gay que era Judy Garland, e que de certa forma, isso teria feito estourar a paciência dos homossexuais que a veneravam.
Se tem omissões, ou falhas, acha que não é todo mundo que conhece a história real e sua importância no movimento LBG. É repleta de clichês mas normalmente o cinema de Hollywood é assim e não tem coragem de defender minorias com a firmeza daqui. O filme tem participação especial de alguns famosos ingleses (Jonathan Rhys Davis que fez a série do rei Henrique VIII e o papel central é de outro jovem inglês Jonathan Irvine, revelado por Spielberg em War Horse). Por outro lado, o filme é discreto em nudez (quase nenhuma), cenas de sexo (não mostrada nada), uso de drogas (raro), caindo em certos clichês. Como começar com o herói bonitinho que é forçado a sair de casa quando descobrem sua sexualidade fazendo amigos com os mais variados gays que eram obrigados a dormirem juntos num mesmo quarto e por vezes na rua, ou se prostituírem para sobreviverem.
Se o filme, repetimos, não é uma obra de arte, é muito importante e mesmo heroica a história que conta, a coragem de enfrentar a policia e o moralismo bisonho daquelas pessoas (sempre com hipocrisia).
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.