A Sensibilidade Caxiense

A Sagração do Cotidiano, Benzeduras traz a originalidade de um certo dia-a-dia no sul do Brasil, região serrana

22/02/2018 14:57 Por Eron Duarte Fagundes
A Sensibilidade Caxiense

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Tem um filme das pequenas coisas, das pequenas e simbólicas verdades do povo simples (de onde todos viemos) feito na serra gaúcha. A sagração do cotidiano, benzeduras (2009) é um documentário de vinte e quatro minutos produzido pela Spaghetti Filmes. Não tem os parreirais nem propriamente exacerba na caracterização das origens italianas dos cenários e das pessoas das localidades onde se passam os depoimentos e as ações. Mas o perfume caxiense, para quem, como eu, se criou ali e aonde volta desde sempre como um ovo a seu ventre, está inteiro. O instituo da benzedura, é verdade, está por todo o país, como algo arraigado na alma do povo; mas assim como ele se revela no filme dirigido por Janete Kriger e roteirizado pela escritora Alessandra Rech só existe de fato em Caxias do Sul e arredores, há uma espontaneidade nas declarações das personagens e depois nas (re)encenações do cotidiano de benzeduras que parece conter um espírito único.

A sagração do cotidiano, benzeduras traz a originalidade de um certo dia-a-dia no sul do Brasil, região serrana. A realidade pode às vezes ser a melhor forma de erigir uma originalidade numa expressão artística. Kriger, a realizadora, seguindo as lições do francês Jean Rouch (Crônica de um verão, 1961, codirigido pelo sociólogo Edgar Morin) e do brasileiro Eduardo Coutinho (que fez um Santo Forte, 1999, com assunto próximo deste documentário gaúcho), se aproxima sem pudores das manifestações populares. Em momento algum baixa a guarda deste seu exasperante objetivo.

Em cena depõem e reproduzem seus gestos místicos cinco benzedeiras e um benzedeiro (benzedeiro é o termo que os créditos finais usam, mas no corpo do filme alguém se vale de sua variante, benzedor). Sabe-se que a maior parte das pessoas que se entregam a esta manifestação mística meio clandestina, um tanto quanto individual são mulheres, o que o filme registra. Sabe-se também que há um misticismo arcaico nestes seres: o que também se documenta.

“Todo mínimo no máximo, todo distante próximo” diz o texto final do documentário. Este esforço de fazer perdurar aquilo que se afigura passageiro, aquela tentativa de trazer para o indivíduo urbano (a equipe de filmagem como o espectador) são característicos de A sagração do cotidiano, benzeduras que esta precisa frase tenta capturar. Benzedura: ou como o cotidiano se torna sacro.

P.S.: Para o leitor desfrutar deste belo documentário, ele está disponível neste link.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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