A Morte do Construtor
Solness, o construtor (1893) narra os delirios cotidianos
O dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, em sua peça em três atos Solness, o construtor (1893), narra os delírios cotidianos, até a morte na cena final, de Solness, um arquiteto, alguém que projeta prédios. Em seu aparente relato de dados objetivos, ambientados em locais burocráticos (no caso, um escritório de arquitetura), Ibsen monta, como em todos os seus textos, uma simbologia mais ampla, uma meditação transcendente, para além de sua objetividade. De certa maneira, Ibsen tem algo de antecipador do tcheco Franz Kafka: diz uma coisa para também dizer outra; ressalvadas as abissais fronteiras entre as realidades de séculos distantes. O construtor é, também, o próprio Ibsen, um arquiteto das palavras: ele executa sua literatura dramática, com rigor arquitetônico; os movimentos, ainda os delirantes, parecem dominados por uma mão narrativa impositiva, de marcação precisa e quase matemática.
Os demônios que dominam a mente de Solness estão invadindo a alma estética do próprio Ibsen. São estes demônios —quase como os vikings nórdicos das Sagas— que farão Solness jogar-se, no último gesto, do alto de uma de suas construções: como diz uma das mulheres em cena (é das modulações das relações da personagem central com as mulheres que sai muito da atmosfera do drama), ele atingiu o cimo e podemos ouvir os sons de harpa. Solness, o construtor é uma peça fatídica, de morte; mas atinge o êxtase pela excelência literária, pelo texto mesmo.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br