A BELA DA TARDE: IMPERDIVEL
Existem varias opcoes para assistir ao filme no streaming ou DVD, mas nao deixe de ver!


Luis Buñuel sempre foi um provocador, e em A Bela da Tarde ele atinge um de seus ápices, entregando uma obra ousada, sutil e profundamente psicanalítica, com a marca inconfundível do surrealismo. É um filme que, apesar de sua aparente simplicidade narrativa, carrega uma complexidade emocional e simbólica que o eleva ao patamar de clássico absoluto.
Catherine Deneuve, no auge de sua beleza e frieza enigmática, interpreta Séverine com uma precisão assustadora. Sua personagem é uma jovem esposa da alta burguesia parisiense que, embora viva um casamento aparentemente estável, sente-se sexualmente insatisfeita. É então que, movida por desejos reprimidos e fantasias inconfessáveis, decide trabalhar como prostituta durante as tardes em um discreto bordel.
Buñuel nos apresenta essa trama com uma mistura quase hipnótica de realidade e delírio. A alternância entre o que é real e o que é imaginação nunca é clara — e nem deve ser. O diretor espanhol brinca com a estrutura narrativa, subverte convenções morais e mergulha fundo nos labirintos da psique feminina. Ao fazer isso, desafia o espectador a enxergar além da superfície.
O roteiro é mínimo, mas extremamente eficaz. Os diálogos são econômicos, os silêncios dizem muito, e cada gesto de Deneuve é carregado de ambiguidade. A direção de arte é elegante, fria e sofisticada, contrastando com os temas quentes e perturbadores. O erotismo aqui não é explícito, mas insinuado — o que o torna ainda mais poderoso.
O que impressiona em A Bela da Tarde é sua atualidade. Em plena década de 1960, Buñuel já discutia com coragem temas como o desejo feminino, o papel da mulher na sociedade e a hipocrisia da moral burguesa. O filme jamais julga sua protagonista — pelo contrário, a humaniza, mostrando suas contradições, seus medos e suas vontades com uma empatia rara.
A cena final, ambígua e aberta, é uma obra-prima em si. Ela resume perfeitamente o espírito do filme: não importa o que é real ou sonhado, importa o que isso revela sobre nós. Buñuel não entrega respostas fáceis, mas nos convida a pensar — e a sentir.
A trilha sonora discreta, quase ausente, deixa espaço para que o som da cidade, dos passos e dos sussurros fale mais alto. A fotografia de Sacha Vierny colabora com esse tom gelado, porém pulsante. E o elenco de apoio — Geneviève Page, Michel Piccoli e Pierre Clémenti — está impecável, cada um representando arquétipos que orbitam o universo interior de Séverine.
Em suma, A Bela da Tarde é cinema de autor no mais alto nível. Uma obra inquietante, refinada, desconcertante e absolutamente necessária. Buñuel nos lembra que o desejo, esse impulso tão humano quanto incompreensível, pode ser tanto uma prisão quanto uma forma de liberdade.
Nota: 5/5
O filme foi lançado em DVD pela horrorosa distribuidora Continental com selo Silverscreen, pela New Line e até a que eu desconhecia versão "oficial" da Universal (nos sites tem como adquirir usados), mas hoje está disponível nas plataformas MUBI (https://mubi.com/pt/br/films/belle-de-jour) e CINDIE (pode ser assinado via Amazon Prime, https://www.primevideo.com/-/pt/detail/A-Bela-da-Tarde/0FEY3EUNG9I1SCEGV1SZQYZ05T), ambos pagos.
Mas está disponível gatuitamente na plataforma NETMOVIES, mediante apenas um cadastro, mas com propaganda: https://www.netmovies.com.br/player/a-bela-da-tarde/43311
E ainda tem no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=IUxgdISDwCg
Seja como for, não deixe de assistir.


Sobre o Colunista:
Edinho Pasquale
Edes "Edinho" Pasquale Landim, administrador de empresas e jornalista brasileiro, reconhecido por sua paixao pelo cinema. Atualmente, atua como editor no site DVD Magazine, onde escreve criticas e analises de filmes. Alem disso, mantem uma colecao pessoal de mais de 14 mil filmes em midia fisica.

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