O Homem Irracional (Irrational Man)

Uma obra menor de Woody Allen, com roteiro um pouco redundante

28/08/2015 11:54 Por Rubens Ewald Filho
O Homem Irracional (Irrational Man)

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O Homem Irracional (Irrational Man)

EUA, 15. 95 min. Direção e roteiro de Woody Allen. Com Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey, Joe Stapleton, Betsy Aidem, Ethan Phillips, Jamie Blackley (como o namorado de Emma).

Classificado como drama, decididamente não é uma comédia este mais recente filme de Woody Allen (onde ele não aparece como ator). Embora tenha sido bem recebido como hors concours em Cannes, não foi bem nos Estados Unidos, o que não é novidade, dando até agora uma bilheteria desastrosa de 3 milhões e 514 mil (não estreou ainda no mercado internacional). Obviamente não agradou talvez por ser filosófico (o protagonista é um professor de filosofia e durante a primeira meia hora discute Sartre, Kant, Heidegger e assim por diante). Ou por ter um roteiro um pouco redundante (a heroína afirma pelo menos uma dezena de vezes que acha o professor muito inteligente e interessante num texto narrativo realmente excessivo e dispensável). E certamente teve um orçamento (não revelado) muito baixo que reduziu o número de atores famosos (antigamente todos os personagens secundários de Allen eram feitos por estrelas, neste aqui fora o triangulo central, todos são desconhecidos e medíocres!) e estudantes velhos demais para os personagens. A única figura diferente que eu consegui identificar foi a filha de Bette Midler, que é a cara dela e se chama Sophie Von Haselberg, que faz a funcionária do deposito de venenos. O diretor de fotografia é um veterano emigrado do Irã, Dariius Kohndji (que fez Seven, Meia Noite em Paris, Magia ao Luar). A Trilha musical que tradicionalmente é em cima de Standards de jazz dos anos vinte e trinta, passou a ser com musicas de bandas, alegres e passageiras, ou seja foi uma escolha infeliz que não ajuda o filme.

Talvez a melhor maneira de falar do filme seja referir-se a Ponto Final - Match Point (05), que era inspirado em Um Lugar ao Sol com uma história parecida de trocar mulher pobre por rica e se tornar assassino. Depois Blue Jasmine (13), era também inspirado em outro clássico, Um Bonde Chamado Desejo. Aqui também da a impressão de ter se inspirado em algum outro filme, pensei em Hitchcock e seu Sombra de uma Dúvida, 43. Mas ainda não matei bem a charada, embora Woody deixe à vista o exemplar de Crime e Castigo, de Dostoeiwski, seu (confessadamente) autor russo preferido!

Rodado em belas locações no estado de Rhode Island (Newport, Portsmouth, Richmond, Cranston, Jamestown, Providence) conta a história desse veterano professor quase quarentão que chega a cidade universitária de Newport com a fama de beber bastante e ser uma figura eloquente, que entendia de filosofia. Está atravessando uma fase de impotência (que é curada pelo assédio de uma professora casada, uma participação muito eficiente da já veterana Parker Posey, mas agrada aos alunos, inclusive um jovem que mantém um namoro firme com outro estudante. Ela é Jill (segundo filme de Allen com Emma Stone, ruiva, mais magra e me pareceu desconcentrada!), que se encanta com o professor e praticamente se joga em seus braços (ele reluta muito). A história realmente só começa depois de quase meia hora quando o casal ouve num restaurante a história de um juiz corrupto (!) que, por ser amigo de um advogado, está prejudicando um caso de divórcio, dando a guarda das crianças para o marido incompetente. O professor resolve então fazer justiça com suas próprias mãos!

O sempre atormentado Joaquin Phoenix (que esconde uma enorme barriga!) é o protagonista que não consegue esconder qualquer sentido na vida. Sombrio e antipático, Joaquin Phoenix parece ter sido vítima do comportamento atual de Allen, que tem se recusado a dirigir atores e deixá-los se virarem sozinhos. Por isso Emma ficou desatinada e ele deixou-se levar pela trama policial promissora que é mal realizada e principalmente muito mal resolvida. A pseudo ironia do flash light não ajuda! Talvez sabendo disso que Allen quando mostrou o filme em Cannes estava super deprimido e “existencialista” insistindo que "A única coisa que você pode fazer como artista é encontrar um jeito de explicar porque a vida não tem nenhum sentido! Porque no fim não tem sentido mesmo. Tudo que você criar irá desaparecer, até mesmo o Sol. Tudo irá desaparecer não importa quanto a gente o aprecie!”. Pelo jeito Allen estava consciente e envergonhado de que estava apresentando uma obra menor.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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