O Cotidiano de Época Brasileiro
Histórias da Gente brasileira, Volume 1, Colônia (2016) acompanha o Brasil colônia, os tempos imperiais, extraído de documentos nem sempre buscados pelos historiadores


A historiadora carioca Mary Del Priore propõe olhar a história brasileira pelas ações das personagens anônimas e onde os fatos não são mais que pitorescos que se entrelaçam. O resultado é um livro saboroso de ler, escrito à beira de nossa gente, com graça e engenho. Histórias da gente brasileira, volume 1, Colônia (2016) acompanha o Brasil colônia, os tempos imperiais, pela vida das pessoas comuns, extraído de documentos nem sempre buscados pelos historiadores.
É claro que às vezes as personagens históricas surgem. Mas não pelos seus grandes feitos. Sim por sua trivialidade. Por aquilo que os aproxima da gente habitual. “Mem de Sá recebeu uma flechada no rosto em meio à luta pela expulsão de uma colônia francesa, no Rio de Janeiro. Faleceu um mês depois.” “Quem não lembra da tórrida relação de d. Pedro I com a marquesa de Santos, de cuja lembrança o Museu Imperial de Petrópolis guarda, cuidadosamente, um insólito registro: um bilhete no qual o enamorado governante rabiscou seu próprio pênis ejaculando?” Mem de Sá e D. Pedro I são raridades neste museu do cotidiano que é o livro de Del Priore. Desde o prefácio, direto como quê, a autora esposa uma outra História, ou uma outra forma de chegar-se da História, diferente daquela que geralmente habita os bancos escolares e é usada pelos professores de sempre, agora uma história da gente brasileira feita pelo dia-a-dia da gente comum brasileira, nada tão bravo assim, mas fazendo coisas, construindo a história lentamente, pois é como ela se dá de fato.
“O que parece cacofonia, ruído desencontrado, é música. São os sons da rua, da casa, dos instrumentos de trabalho ou de festas.” Como historiadora, caberá a Del Priore usar de seu saber ou de sua habilidade para organizar, num método, esta vida aparentemente sem método, livre e inspirada; organizar sem que a organização aprisione o pulsar da vida nesta história de vidas aqui capturada por uma cientista do passado. Pequenos achados se espalham, captando a época e suas transformações. “Até a descoberta do ouro em Minas Gerais, a cidade do Rio de Janeiro não tinha muitos encantos.” Será que certos fatos históricos ajudaram esta natureza carioca que hoje hipnotiza o viajante? Fruto do ouro de Minas, sendo o Rio o porto para seu transporte rumo do colonizador europeu?
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)


Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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