RETROSPECTIVA 2018: O Cinema Brasileiro num Ano Difcil
Bem que houve um romance entre o pblico brasileiro e os filmes nacionais. Boa vontade, boa bilheteria, atores e comediantes aplaudidos
RETROSPECTIVA 2018: O Cinema Brasileiro num Ano Difícil
Bem que houve um romance entre o público brasileiro e os filmes nacionais. Boa vontade, boa bilheteria, atores e comediantes aplaudidos por eles ou mesmo algumas chanchadas que lembravam coisas antigas, mas que tinham seus consumidores. Eu tomei como rumo não falar mal à toa dos nacionais mais fracos ou que caiam demais na chanchada. Então, nesses casos, via e não escrevia a respeito. Mas com o passar do tempo fui ficando entusiasmado quando algumas pessoas vinham falar comigo na sala, afirmando que “nós gostamos do cinema brasileiro!”. E eu também.
Esse entusiasmo meu foi crescendo nos últimos anos desde quando fui para Gramado onde me tornei, junto com Marcos Santuário, a fazer a seleção dos longas-metragens, contente também porque os cineastas começaram a procurar o Festival acreditando em sua boa vontade e prestígio. Ingenuamente fizemos com cuidado Gramado 2018 na certeza de que seria um grande sucesso de bilheteria. Mas com a crise financeira, a falta de dinheiro, o medo da campanha eleitoral não foi bem assim. E o público deixou escapar, ou seja, de ver alguns filmes de muita qualidade. Por exemplo, o a vida do campeão mundial Eder Jofre, em Dez Segundos para Vencer, certamente o melhor filme de Boxe já feito no Brasil, com grandes interpretações (com o ótimo Osmar Prado, Daniel de Oliveira) tudo muito bem dirigido pelo já veterano José Alvarenga Jr. O público iria adorá-lo, ainda que tenhamos que esperar sua estreia um dia na TV Globo.
A verdade é que não podemos culpar o povo que sempre gostou do cinema nacional colocar seu modesto dinheirinho para prestigiar essas vítimas do destino. Acreditem: a seleção de bons filmes hoje em dia é bem grande e deve continuar. Posso lembrar alguns filmes que o público deveria ver se tivesse a chance, como o encantador e adorável, Benzinho (em inglês, veja só, Loveling) com os grandes atores ainda não consagrados como deviam Otavio Muller, Adriana Esteves, e a protagonista Karine Teles. Outro filme que me impressionou muito foi A Voz do Silêncio de André Ristum que tem um notável domínio narrativo (e trouxe de volta a esplêndida Marieta Severo). Teve mais, comprovando a qualidade de um cinema que nem sequer teve ainda a sorte de voltar a ser descoberto. Tenho certeza que tudo irá recomeçar e dar certo.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.