RESENHA: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
RESENHA: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Brasil, 14.
Direção e roteiro de Daniel Ribeiro. 95 min. Com Ghilerme Lobo, Fabio Audi, Tess Amorim, Selma Egrei, Eucir de Souza, Lucia Romano, Isabela Guasco.
Vencedor do prêmio da crítica (na Mostra Panorama) e o Premio Teddy (para o melhor filme gay) do recente Festival de Berlim, este primeiro longa de Daniel Ribeiro já chega com a reputação de seu diretor que fez dois curtas temáticos muito bem sucedidos e que estão disponíveis no You Tube. Café com Leite (07), premiado como melhor curta também em Berlim, prêmio Cinema Brasil, Miami e Paulínia entre outros, sobre a relação de casal gay, onde um deles tem que cuidar do irmão pequeno. Logo depois ele acertou novamente com outro filme que é uma pequena joia, chamado Eu não quero Voltar Sozinho (2010), mais premiado ainda (Mix, Paulinia novamente, Torino, Seattle etc.).
Reparem no detalhe importante: no curta o protagonista cego e adolescente não quer voltar para casa sozinho. No segundo e longa, já mudou de ideia. De qualquer forma, é uma extensão do original com o mesmo elenco, o que é certíssimo, já que estão todos naturais, simpáticos e eficientes. Tanto num quanto noutro. Trabalhando com grande parte de amadores o resultado é totalmente convincente.
Admito que possa ser até impressão errada, mas a gente fica com a sensação de que prolongado o filme perde parte de seu encanto. Talvez seja ausência de surpresa, o inusitado que não esta mais lá. Ainda assim será difícil não embarcar nesta situação, graças me parece à naturalidade e simplicidade com que o elenco é conduzido mesmo quatro anos depois. O diretor tem mão para cinema e sensibilidade que fica mais do que evidente ao descrever a personalidade do protagonista Leonardo (Lobo) que é um adolescente cego, que vive com os pais restritos que tentam não serem controladores demais. Com raras visitas a avó (um prazer ver Selma Egrei sempre linda e serena). Tem uma melhor amiga ciumenta, Giovanna que frequenta a mesma escola e Leonardo sofre bullying por parte de colegas por ser deficiente (uma coisa que acho difícil acontecer naquele tipo de escola, o rapaz perseguido por esse problema mas não por ser gay!).
Enfim, a situação toda é criada aos poucos, quando surge Gabriel um novo aluno do interior que se junta a dupla e com relutância também se sente atraído por Leonardo. No desenvolvimento da relação, o personagem de Gabriel se explica pouco (acho que falta um pouco mais de conflito para dar mais força ao entrecho).
Tudo isso, porém não abala o fato do filme ser tão ”gostável”, tão bem realizado e sucedido. Chamá-lo do melhor filme gay já feito no Brasil seria reduzi-lo injustamente. Prefiro apostar no talento do diretor que tenho certeza fará uma bela carreira.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.