A infancia de Ivan
Na Segunda Guerra Mundial, o garoto orfao Ivan, de 12 anos, atua como espiao no Exercito Vermelho, cruzando as linhas inimigas para conseguir informaoees do lado alemao. Ele faz esse trabalho como forma de se vingar dos nazistas, que assassinaram sua familia
A infância de Ivan (Ivanovo detstvo). URSS, 1962, 95 minutos. Drama. Preto-e-branco. Dirigido por Andrei Tarkovsky. Distribuição: CPC-Umes Filmes (DVD e Bluray, de 2021) e Versátil Home Video (DVD, de 2015, no box A arte de Andrei Tarkovsky)
Esse foi o longa-metragem de estreia do cineasta Andrei Tarkovsky, na época com 29 anos, que venceu o Leão de Ouro no Festival de Berlim em 1962.
Rodado na cidadezinha ucraniana de Kaniv, às margens do rio Dniepre (que corta a Rússia e é um dos extensos do país), é um drama dos mais bem fotografados do cinema, com imagens descomunais que trazem uma carga realista misturada a um tom onírico, de um interminável pesadelo no front de guerra. Aliás, Tarkovsky prezava pela fotografia, que tinha uma voz consonante com a trama e os personagens - vide em seus filmes como ela é um elemento primordial, e todo o rigor técnico capaz de elevar cada filme ao status de obra-prima, dentre eles “Solaris”, “Stalker”, “Andrei Rublev”, “O espelho” e “O sacrifício”. Em “A infância de Ivan” Tarkovsky exercitou suas técnicas que virariam uma marca autoral, como a câmera lenta, as passagens com gruas, o panorama, a profundidade, a manipulação/intervenção de imagens com pura semiótica e deslocamentos. É um diretor único, que infelizmente nos deixou cedo demais, em 1986, aos 54 anos, vítima de câncer no pulmão.
O filme foi um dos primeiros a mostrar o olhar de uma criança diante de uma guerra atroz, depois viriam tantos outros, como o aclamado “Vá e veja” (1985, também russo), o lírico “Esperança e glória” (1987) e o perturbador e recém-lançado “O pássaro pintado” (2019). É baseado num conto de 1957 de Vladimir Bogomolov e Mikhail Papava, que traz um garoto cuja família foi morta pelos nazistas, alia-se aos soviéticos e vira um espião (pelo corpo miúdo, consegue atravessar florestas e cercas sem ser visto, ou seja, escapa com facilidade, e assim se infiltra no meio alemão para obter informações e repassá-las ao outro lado das linhas inimigas). Protegido de oficiais soviéticos, ele permanece até o fim para se vingar dos alemães, mesmo diante de um iminente embate entre as duas tropas.
Na época o bom ator Nikolay Burlyaev tinha 15 anos (interpretando um garoto de 12), sendo essa sua estreia, e depois trabalharia com Tarkovsky no épico “Andrei Rublev” (1966).
Lançado esse mês em DVD e Bluray pela CPC-Umes Filmes, numa cópia restaurada digna de elogios. Vale lembrar que o filme também está disponível em DVD pela Versátil no box “A arte de Andrei Tarkovsky”, junto de “O espelho” (1975), “Nostalgia” (1983) e “Tempo de viagem” (1983).
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com