Pólvora, Sangue e Mar
O Almirante ? Correntes Furiosas é uma aventura empolgante, bem ao estilo de alguns filmes de pirata que encantaram a infância de muitos
Orientais são bons de batalha cinematográfica. Basta fazer uma lista de embates emocionantes. Sempre vai haver um chinês ou um japonês. Das produções mais independentes até investimentos altíssimos, que faz filmes do outro lado do mundo não poupa esforços para garantir a diversão de quem gosta do barulhinho de espadas se tocando ou mesmo aqueles socos que fazem um som que só existe no cinema. Tanto que o maior sucesso de bilheteria até agora na Coréia do Sul é um filme que tem seu encanto no ataque.
O Almirante – Correntes Furiosas, dirigido por Kim Han-min, foi buscar na história o seu protagonista, o almirante Yi Sun Sin, figura conhecida e admirada no país, com direito a uma estátua considerada um dos principais pontos turísticos de Seul. A produção se passa durante uma das mais famosas e sangrentas aventuras vividas pelo herói, a chamada Batalha de Myeongnyang, onde Yi Sun Sin derrotou uma frota de navios muito superior à sua. Para ser mais precisa, o almirante comandava 12 humildes embarcações contra as 330 do lado inimigo. Parece ficção, mas a realidade dessa vez veio com o roteiro pronto, cabendo aos responsáveis pela adaptação apenas acrescentar alguns alívios cômicos e um pouco de romance, já que o objetivo era atingir um grande público.
O veterano Choi Min-sik, que já havia mostrado seu talento em Oldboy e Eu vi o Diabo, agora encara um personagem de época com bastante segurança. Em alguns momentos, em especial o que antecede a grande batalha, o ator lembra um pouco a força cênica do japonês Tatsuya Nakadai, impressa em produções como Kagemusha e A espada da maldição. Aliás, algumas cores e ângulos de O Almirante – Correntes Furiosas fazem referência ao período em que o diretor Akira Kurosawa contou com apoio ocidental para realizar seus filmes. Sua falha, no entanto, é intercalar essas boas inspirações com cenas repletas de vícios de blockbuster de ação, em especial os filmes de super-herói capitaneados por Zack Snyder, principalmente a câmera lenta. É dos poucos minutos de exibição que nos confundem sobre se o que estamos vendo é uma produção americana ou coreana. Mas são tão breves que acabam sendo relevados pela maioria dos espectadores.
No fim das contas, O Almirante – Correntes Furiosas é uma aventura empolgante, bem ao estilo de alguns filmes de pirata que encantaram a infância de muitos, e ainda faz um resgate histórico bem acabado de um dos grandes nomes da guerra entre Japão e China. O bom resultado nas bilheterias é a prova que o Oriente tem boas histórias para todos. Tenham eles olhos puxados ou não.
Sobre o Colunista:
Bianca Zasso
Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.