Excertos do Cotidiano Intelectual Suico nos Anos 70

Jonas que tera 25 anos no ano 2000, dirigido por Alain Tanner, se trata da narrativa cinematografica dos tempos em que se acreditava que o capitalismo poderia ser destruido

30/10/2021 02:36 Por Eron Duarte Fagundes
Excertos do Cotidiano Intelectual Suico nos Anos 70

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar



 

Jonas que terá 25 anos no ano 2000 (Jonas qui aura 25 ans en l’an 2000; 1976), dirigido pelo suíço Alain Tanner, é uma narrativa cinematográfica dos tempos em que se acreditava que o capitalismo poderia ser destruído. O filme, desde seu título, apostava numa outra sociedade, diferente daquela vigente e que era contestada pelas ações e pensamentos das oito personagens centrais; o que simbolizava esta sociedade do futuro eram a gestação, o nascimento e os primeiros anos do pequeno Jonas, fisicamente filho dum casal específico dentre os oito mas dentro da ótica narrativa de Tanner uma autêntica produção coletiva, algo gerado na verdade pelas idéias e sentimentos de todos os oito seres que o cineasta identifica como vozes fundamentais da década de 70 na Suíça, na Europa, no mundo. É uma realização profética, profetiza um mundo que nunca chegou, está banhado de profundidade e esperanças que às vezes parecem datados, mas ainda hoje, graças à acuidade fílmica de Tanner, emociona e perturba.

Marco é o professor de história que numa determinada aula compara o Tempo a um chouriço, mostrando que fragmentado ele não significa nada, pode ser jogado no lixo. Marco vai topar com Marie, a caixa de supermercado que um dia é presa por roubar nos preços de mercadorias com que lida. Max é um revolucionário ácido que se envolve com a liberada Madeleine, que lhe foi apresentada num bar por um executivo de quem é secretária. Marcel é ecologista e sua mulher Marguerite vive da terra. Mathieu, o operário, e sua esposa Mathilde têm dois filhos e ela vai engravidar de Jonas, o signo do futuro humano. Marco, o intelectual, em suas aulas de história traz o operário Mathieu para falar com estudantes de recessão, inflação e outras coisas do capitalismo; Marie, a caixa de supermercado, é igualmente convocada para palestrar em uma aula e, em face da fusão de sua profissão com o envolvimento com o professor, um aluno tergiversa ironicamente sobre economia e relações sexuais.

Há dois planos-sequência irremarcáveis em Jonas que terá 25 anos no ano 2000. Um destes planos-sequência reúne habilmente em cena os oito protagonistas do filme, que vão chegando diante da câmara e são desenhados num muro pelas crianças. O outro plano-sequência agrupa sete dos oito seres, pois Marie está presa; a câmara se movimenta entre as personagens, acariciando-as e a seus diálogos (câmara móvel acariciante é o que há ao longo de todo o filme); é nesta sequência que as personagens falam do nascimento de Jonas e dos sonhos futuros, dando uma aguda orientação ideológica à narrativa.

E o plano final do pequeno Jonas, aos cinco anos de idade, (um letreiro pula a ação do filme para 1980), rabiscando sobre o muro onde estão desenhadas as oito personagens (todas com a letra eme no início de seus nomes) que o geraram, este plano remete ao final de Rocco e seus irmãos (1960), do italiano Luchino Visconti, onde também um menino, Luca, agita sua mão sobre um muro, acariciando a face de seu irmão Rocco estampada em jornais como um boxeador famoso. O penúltimo plano do filme é o mesmo que o abre: Max entra numa tabacaria para comprar cigarros; quando ouve o preço dito pela moça do caixa, queixa-se de que o valor subiu; isto foi ontem, responde a caixa. Se o Tempo histórico parece um chouriço que se fragmenta, como alude Marco em sala de aula, cumpre ao pensador-cineasta unir as batidas do Tempo para dar-lhe significado histórico. Ou cinematográfico.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

Linha

relacionados

Todas as máterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantém você conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar você pode compartilhar suas preferências, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se já!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro