Somos Efemeros, e Rejeitamos Se-lo

Lipovetsky sabe dos perigos e dos limites ou limitadores intelectuais da moda

17/12/2023 03:08 Por Eron Duarte Fagundes
Somos Efemeros, e Rejeitamos Se-lo

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

 

A moda é o pretexto de reflexão de O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas (L’empire de l’éphémere: la mode et son destin dans les sociétés modernes; 1987), de Gilles Lipovetsky; a reflexão proposta por Lipovetsky neste seu livro clássico e profundo é debruçar-se sobre o conceito do efêmero na própria natureza humana, efemeridade que a velocidade das últimas quatro ou cinco décadas tem tornado mais radical e põe o espírito humanista (perenidade e adjacências) em perplexidades constantes. “O momento é difícil, mas não é sem saída; as promessas da sociedade-moda não darão seus frutos imediatamente; é preciso deixar ao tempo a possibilidade de fazer sua obra.” Já nos anos 80, Lipovetsky tinha um olhar visionário; lograva ver no estatuto da moda elementos para além da superficialidade em que uma perspectiva ligeira a isola: “Resta que, contrariamente aos estereótipos com que grotescamente a vestem, a era da moda é a que mais contribui para arrancar os homens em seu conjunto do obscurantismo e do fanatismo, para instituir um espaço público aberto, para modelar uma humanidade mais legalista, mais madura, mais cética.”

Lipovetsky aproxima-se do fenômeno da moda com o criticismo de um cientista. Cientista social? Haverá mesmo esta categoria meio contraditória de pensador? Lipovetsky exercita este olhar estruturado no pensamento social com uma liberdade poética porém racional. O uso da razão crítica larga as sementes no caminho. Acompanhamos: “Lamenta-se frequentemente o materialismo de nossas sociedades. Por que não se ressalta que, ao mesmo tempo, a moda consumada contribui para desprender o homem de seus objetos? No império do valor de uso, não nos ligamos mais às coisas, muda-se  facilmente de casa, de carro, de mobiliário, a era que sacraliza as mercadorias é aquela na qual nos separamos sem dor de nossos objetos.” A moda é o reino do superficial? O superficial é o que essencializa o homem de hoje? “Se a cultura de massa está imersa na moda é também porque gravita em torno de figuras de charme com sucesso prodigioso, que impulsionam adorações e paixonites: estrelas e ídolos.”

Lipovetsky sabe dos perigos e dos limites ou limitadores intelectuais da moda; mas os deixa nas entrelinhas de seu prodigioso pensamento exposto ao longo de O império do  efêmero, preferindo centrar suas ideias na documentação sociológica das realidades em torno do fenômeno moda desde os anos 80 e que, passados alguns anos, permanecem em vigor. O efêmero não tem sido tão efêmero assim: senão como a essência material do homem — do indivíduo.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

Linha
Todas as máterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantém você conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar você pode compartilhar suas preferências, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se já!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro