A MEIA-IRMA FEIA: RESENHA
Sem duvida, Blichfeldt fez uma estreia elegante, dispon?vel no Prime
A diretora norueguesa Emilie Blichfeldt estreia no cinema com uma engenhosa versão revisionista da história de Cinderela, dos Irmãos Grimm. A cínica viúva Rebekka (Ane Dahl Torp) se casa novamente com um viúvo abastado em algum lugar da Europa Central do século XIX; ele a torna viúva pela segunda vez após atirar bolo durante o café da manhã do casamento. Como resultado, Rebekka passa a viver uma vida simples com sua filha Elvira (Lea Myren), Alma (Flo Fagerli) a irmã mais nova e a enteada, Agnes (Thea Sofie Loch Naess), uma bela jovem que se ressente arrogantemente da feia Elvira. Em vez de pagar o funeral do falecido marido, Rebekka deixa o corpo dele apodrecer em algum lugar da casa enquanto gasta dinheiro em tratamentos estéticos bizarros para Elvira – remodelação brutal do nariz e dos cílios – na esperança de que o Príncipe Julian (Isac Calmroth) a escolha como noiva em seu próximo baile. Mas Elvira, precipitadamente, engole uma tênia para poder satisfazer sua paixão por bolos e a calamidade se aproxima. Há reviravoltas no estilo de David Cronenberg, com (talvez inevitavelmente) ecos de Carrie – a Estranha (1976) e Alien – o 8º Passageiro (1979)., ao mesmo tempo que investe no terror corporal contrapondo com figurinos e design suntuosos, mas sem o exagero de A Substância (2024), com direito a cena pós crédito tal qual filme da Marvel. Curiosamente, a diretora subverte as expectativas sobre qual das duas protagonistas é realmente a meia-irmã cruel e vaidosa e, portanto, quem possui a autêntica beleza interior. Assim como na versão original, há uma falha na trama em relação à cena de experimentar o sapato: certamente o Príncipe consegue ver pelos rostos quem é, e quem não é, seu verdadeiro amor. Ou… talvez não seja uma falha na trama, mas puro fetichismo por apêndices corporais prevalecendo sobre o reconhecimento facial seja o ponto. Este é um filme hiperconsciente do imaginário sexual e patriarcal de Cinderela. Sem dúvida, Blichfeldt fez uma estreia elegante.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com
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