RESENHA CRTICA: Se Eu Ficar (If I Stay)
Como difcil fazer histrias romnticas e morte e choro...
Se Eu Ficar (If I Stay)
EUA, 14. 106 min. Direção de R. J. Cutler. Roteiro de Shauna Cross. Baseado em livro de Gayle Forman. Com Chloe Grace Moretz, Mireille Enos, Jamie Blackley, Stacie Keach, Liana Liberato, Joshua Leonard.
Quando se fica sabendo que o filme teen e romântico A Culpa é das Estrelas foi o lançamento de maior bilheteria até hoje neste ano no Brasil, não é difícil imaginar que este na mesma linha chegasse com a mesma força. Embora já tenha ficado um pouco chocado quando ele não deu bom resultado de bilheteria por lá (chegando ao topo de 18 milhões de dólares, ainda que seu baixo orçamento não passe de 11!). Fica claro que alguém errou na dose e na adaptação. E para que não acha dúvida, Se eu Ficar no caso seria o espírito da heroína em coma, se vai ou não partir desta para melhor!
O candidato mais claro é o diretor Cutler que tem longa carreira de produtor (série de TV Nashville) e alguns como diretor, mas quase sempre como diretor de documentários políticos. Mal auxiliado pela Shauna Grass (do abominável Garota Fantástica, 09 com Ellen Page, O Que Esperar Quando Está Esperando, 12, que tem até o Santoro), a história não podia ser mais mal contada. Aliás aconselho os professores de roteiro a levarem os alunos ao cinema e demonstrarem tudo que não se deve fazer ao se contar uma história em flashbacks. Se bem que para mim o problema começa um outro erro muito comum, que é o da escalação de elenco. No personagem da mocinha, Mia Hall, que tenta conseguir bolsa na faculdade mais conhecida do mundo como tocadora de violoncelo, escolheram Chloe Grace Moretz que já teve as chances que merecia e nunca acertou. Pior: vai se estragando com a idade. Ainda bonitinha e sem pescoço ela não tem a menor química com o herói masculino, um britânico que eu desconhecia (Jamie Blackley, que é líder de um banda de punk rock, esteve em Branca de Neve e o Caçador, O Quinto Poder, Os Borgias). Chloe vem de Carrie, a Estranha,Sombras da Noite, Hugo Cabret, Deixe-me Entrar, Kick Ass: Quebrando o Tudo).
A história começa acentuando como o casal não tem nada entre si, em lados opostos da música e para complicar os pais são roqueiros fanáticos (Mireille Enos, da série The Killing faz a mãe). Não demora muito já ocorre a tragédia: um acidente de carro que mata muita gente e deixa outros em coma e então segue-se o esquema flash de cinco a sete cenas para retornar o então presente e proceder a mais uma tragédia. Ou cena de despedida (porque têm avós, parentes, colegas e assim por diante). O uso indiscriminado do recurso dramático aqui deixa muito bem claro porque deve ser usado com parcimônia. O filme em vez de emocionar pelo excesso de querer que o espectador reaja assim consegue irritar. Acho que também é uma boa lição para entender como é difícil fazer histórias românticas e morte e choro. Ainda mais agora que voltaram à moda.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.