Arrastado, Repetitivo e Tardio

A Memória Que Me Conta afunda em seu próprio dilaceramento que parece um tanto quanto medroso ou desorganizado

08/07/2015 14:36 Por Eron Duarte Fagundes
Arrastado, Repetitivo e Tardio

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A cineasta brasileira Lúcia Murat vai falar sempre da experiência central de sua vida, nos anos de sua formação: a resistência da esquerda à ditadura de direita nos anos de chumbo em que os militares tomaram o poder na sociedade brasileira. Lúcia nunca chegou propriamente a deslanchar em seus filmes, apesar da extrema honestidade e autenticidade que deles emana. Mas em A memória que me contam (2012), seu mais recente trabalho, suas divagações sobre o assunto se arrastam cinematograficamente, reitera confrontos dramáticos e revela-se, mais do que nunca, uma espécie de produto tardio que pode enfadar o observador.

A memória que me contam passa-se no tempo presente, de hoje, onde a memória de um grupo de pessoas que participou do enfrentamento para com o regime é que vai narrar propriamente o filme. A morte de um ex-ativista deflagra a epiderme mnemônica dos demais. A personagem de Irene Ravache não deixa de ser um alter-ego da realizadora, pois a criatura, que tem o mesmo nome da atriz, Irene, dirige filmes; a própria intérprete, Irene Ravache, se identifica de alguma forma como uma porta-voz da mulher que está atrás da câmara, Lúcia Murat. Não se pode tributar ao elenco os aspectos falhos da realização: Irene está muito bem, assim como Simone Spoladore, Franco Nero ou Otávio Augusto. Os desacertos de A memória que me contam se concentram nos sussurros soníferos que inundam o ritmo narrativo.

Em todo o caso um assunto espinhoso e necessário como este não pode ser descartado numa notação cinematográfica sem alguma culpa, mesmo diante de um filme falhado, que respira mal. A memória que me contam se dilacera, como todo filme que trata disto, mas afunda em seu próprio dilaceramento que parece um tanto quanto medroso ou desorganizado.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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