Revisitando Mamma Roma
Um Pasolini em cartaz nos cinemas de São Paulo, vale para conhecer a magnífica Anna Magnani
Mamma Roma
Itália, 1962. 106 min. Diretor e roteirista: Pier Paolo Pasolini (1922-75). Elenco: Anna Magnani, Franco Citti, Ettore Garofolo, Silvana Corsini, Luisa Loiano, Paolo Volponi.
Sinopse: Prostituta que agora tem uma banca na feira tem problemas quando o filho de 16 anos vem morar com ela e se envolve em vida de crimes, na periferia de Roma.
Comentários: Segundo longa-metragem de Pasolini (em excelente restaurada), o primeiro foi parecido mas ainda realista (Accatone - Desajuste Social, 61, com sua descoberta Franco Citti, que também está presente aqui). Antes Pasolini, já conhecido com escritor e polemista, havia colaborado em roteiros de gente famosa. Começou com A Mulher do Rio, com Sophia Loren (54, do escritor Mario Soldati), e depois ajudou a escrever Il Prigioneiro della Montagna, 55 de Luis Trenker, Noites de Cabiria, 57 de Fellini, Namoros de Marisa, 57, de Bolognini com Marisa Allasio, Jovens Maridos, 58 do mesmo Bolognini, A Longa Noite de Loucuras (La Notte Brava, de Bolognini, 59, um de seus melhores trabalhos), o argumento de A Morte de um Amigo, de Franco Rossi, 59, La Dolce Vita, 60 (sem crédito), O Belo Antonio, 60 também de Bolognini, A Noite do Massacre de Florestano Vancini, 60, A Derradeira Missão de Gianni Puccini, 60, Um Dia de Enlouquecer, de Bolognini, 60, com Jean Sorel, Mulheres na Vitrine, de Luciano Emmer, 61, com Lino Ventura. Essa foi sua grande fase como autor e praticamente todos os filmes se tornaram clássicos. Depois de dirigir ainda voltaria a escrever scripts (o único que merece menção foi A Morte (La Commare Seca, de Bertolucci, em começo de carreira , 62), e estranhamente o notório brasileiro Carlos Imperial adaptou uma história de sua autoria que resultou no filme nacional Mulheres...Mulheres... co dirigido por ele em 81!
Este filme foi feito especialmente como veículo para a lendária Anna Magnani (1908-73), ainda que baseado num romance de sua autoria, demonstrando o fascínio que ele tinha pela periferia de Roma principalmente os pobres e os marginais. Filmou várias vezes por lá e acabou sendo assassinado por um marginal noutro lugar deserto e empobrecido, que era perto da praia mais próxima de Roma. La Magnini é uma verdadeira força da natureza e amiga do escritor americano e gay Tenneesee Williams que lhe escreveu especialmente para ele textos que resultaram em filmes famosos, como a Rosa Tatuada (55) que lhe deu o Oscar de melhor atriz e Vidas em Fuga (The Fugitive Kind, 60 com Marlon Brando). Fez outros filmes para Hollywood, como O Segredo de Santa Vitória, 69 e antes disso foi musa de Rossellini (que a revelou no primeiro filme neo-realista, Roma, Cidade Aberta, 45 e a deixou por Ingrid Bergman) e o mestre Luchino Visconti com Belissima (Idem, 52) e o episódio Anna de Nós, as Mulheres (51). Sua ultima aparição no cinema foi como ela mesma no filme do amigo Roma de Fellini (Anna 1908-73).
Naturalmente ela é a melhor coisa dominando um filme apenas curioso, que mostra os bairros pobres de Roma que interessavam a Pasolini (quase todo o elenco é amador e demonstra isso). O final é um pouco obscuro, as situações, porém, são humanas e ainda Neo-Realistas. Pasolini ainda faria coisa melhor e muito mais ousada ou então misteriosa! De qualquer forma, vale para conhecer a magnífica Anna.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.