E o Vento Levou no Cinemark

Hoje é dia de clássico no Cinema, não perca!

24/04/2017 23:58 Por Rubens Ewald Filho
E o Vento Levou no Cinemark

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E o Vento Levou (Gone With the Wind)

EUA, 1939. 217 min. Produzido por David O. Selznick. Direção de Victor Fleming. Roteiro de Sidney Howard a partir do romance de Magaret Mitchel. Fotografia de Ernest Haller, Ray Rennahan e Wilfrid M. Cline. Música de Max Steiner. Elenco: Clark Gable, Vivien Leigh, Leslie Howard, Olivia de Havilland, Hattie McDaniel, Thomas Mitchell, Barbara O’Neil, Butterfly McQueen, Victor Jory, Evelyn Keyes, Ann Rutherford, Laura Hope Crews, Harry Davenport, Ward Bond. Technicolor.

Sinopse: A guerra Civil americana leva à ruína uma família sulista orgulhosa de sua plantação chamada Tara. A filha deles, Scarlett O´Hara faz de tudo para salvar o lugar, chegando a se casar três vezes sem amor, para sustentar a família.

Bastidores: Durante décadas E o Vento Levou foi o filme de maior bilheteria de todos os tempos, na verdade , se hoje  forem feitos os cálculos de inflação e aumento de população e o preço dos ingressos, ainda deveria  manter o posto. Certamente foi o que de mais impressionante e notável que a clássica e antiga Hollywood já produziu. O mais curioso é que o filme não é obra de um único diretor, ou um grande estúdio. Foi criado, produzido e finalizado por um produtor independente David O Selznick e a Metro só ficou com os direitos de distribuição porque o publico exigiu que Clark Gable, astro daquele estúdio fizesse o papel central. Surgiu primeiro como “best-seller” escrito por uma senhora de Atlanta, Georgia, Margaret Mitchell. Selnizck comprou o direitos e realizou uma das campanhas publicitárias que durou anos, promovendo a procura dos atores ideais para os personagens. Fora Gable,  a escolha de Olivia de Havilland e Leslie Howard foi tranquila. O problema foi encontrar alguém para a figura central de Scarlett O´Hara. Houve dezenas de garotas testadas, entre elas, Katharine Hepburn, Jean Arthur e a favorita Paulette Goddard. Mas a escolhida foi uma inglesa desconhecida que estava em Hollywood com o namorado Laurence Olivier e foi assistir a rodagem desta primeira cena, o incêndio de Atlanta, interpretado por dublês. Mas a escolha não podia ser mais acertada. Vivien Leigh tornou Scarlett inesquecível. Coquete, fútil, vaidosa, ela também é uma mulher de uma força inquebrantável, capaz de tudo, até enfrentar soldados inimigos para defender sua família e sua casa da fazenda, Tara. É capaz de tudo, até mesmo de se casar três vezes sem amor. Mas mesmo sendo tão esperta, é também cega, não é capaz de reconhecer e conservar o verdadeiro amor de sua vida , Rhett Butler...

Embora assinado por Victor Fleming, E o Vento Levou foi dirigido por vários outros, em particular o diretor de arte William Cameron Menzies, Sam Wood e George Cukor que iniciou a fita, mas foi dispensado a pedido de Gable. Mas é Selniczk quem lhe deu o formato definitivo, foi ele que brigou com a censura para deixarem usar uma palavra proibida ao final na frase, “Frankly, my Dear, I dont´give a Damn” e que fez o filme mais longo do cinema até então, com 222 minutos. Foi premiado com Oscars de filme, atriz (Vivien), direção (Fleming), coadjuvante (a negra Hattie McDaniel), roteiro adaptado, direção de arte, fotografia colorida, montagem e o prêmio Thalberg para Selznick (além de outro especial para o diretor de arte William Cameron Menzies). Curiosamente Gable não ganhou o Oscar esse ano, perdendo para Robert Donat por Adeus, Mr Chips. O filme teve uma continuação feita para a TV , em 1994, chamada Scarlett  (Idem) com Joanne Whaley e Timothy Dalton (porque os direitos autorais do livro estavam prestes a cair em domínio público e assim ficaram protegidos).

Critica: Foi a obra-prima que ele nunca mais conseguiu repetir. David O Selznick (1902-1965) passou o resto de sua existência, fazendo filmes para sua amada esposa Jennifer Jones e tentando provar para o mundo que ele era algo mais além do responsável pelo sucesso mundial de E o Vento Levou. O que não foi pouco. O maior feito dele é sem dúvida foi a escolha do elenco. Não há risco em afirmar que o filme não resistiria sem Vivien, uma das mulheres mais lindas e sensuais do cinema. E Gable, é o Rhett Butler ideal. Se o filme tem alguma falha é justamente tentar nos convencer que Scarlett seria capaz de ficar apaixonada por Ashley tanto tempo (especialmente porque o personagem é feito pelo feioso, inexpressivo e pálido Leslie Howard, que morreria como herói durante a Segunda Guerra. Além de tudo, ele era velho demais para ser galã).

Ninguém se conforma com a cegueira de Scarlett, quando o marido Rhett – tão evidente sintonia de virilidade - está apaixonado por ela e a heroína insiste em perseguir o outro, casado com sua melhor amiga Olivia De Havilland, a única sobrevivente do elenco e que está agora com 100 anos completados ano passado é irretocável como a benevolente Melanie, que como  dizem os diálogos, “é boa demais para ser verdade”. 

Há problemas também com o alívio cômico que parece excessivamente marcado (como quando na lua de mel de Scarlett ela come como um camponesa ou nos trejeitos cômicos de Prissy, Butterfly McQueen, racialmente discutíveis). Nada disso atrapalha o encanto do filme que resistiu a tudo (até mesmo versões ampliadas para 70 milímetros, depois uma recente restauração por computador ). Acredito que por causa da força do personagem de Scarlett, mimada extravagante, cínica e indomável.

Algumas cenas são inesquecíveis: ela subindo as escadas enquanto se espalha a notícia do começo da guerra, a chegada da lista dos mortos, a despedida de Scarlett e Rhett nas proximidades de Tara, os antológicos travellings que encerram a primeira e a Segunda parte e a imagem que se abre para mostrar os feridos na Estrada de Ferro e ainda a trilha musical magistral de Max Steiner . As pessoas só não se conformam com o final (reparem como grande parte dos melhores e mais populares filmes tem finais infelizes). Mas para os espectadores do mundo inteiro, o que parecia ser esse final triste se tornou uma mensagem de esperança . Porque, afinal, “Tomorrow is another Day/ Amanhã é outro dia”!

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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