NA NETFLIX: O Outro Lado do Vento (The Other Side of the Wind)
Lamento decepcionar, mas desta vez a gente fica terrivelmente decepcionado com o gênio do cinema que não dava mais certo
O Outro Lado do Vento (The Other Side of the Wind)
EUA, 2018. 122 min. Direção de Orson Welles. Elenco: Susan Strasberg, John Huston, Lilli Palmer, Robert Random e muitos outros.
Já disponível. Eles também anunciam o lançamento de um filme semelhante, They ´ll Love me When I´m Dead, 2018. Um Documentário de 98 min. Mostrando os últimos 15 anos de vida do lendário Orson Welles, quando procurou fazer O Outro Lado do Vento (na verdade, a proposta é um filme sobre um diretor que esta ficando velho e tentando concluir seu último grande trabalho). O elenco básico aqui é com Peter Bognadovich, Steve Ecclesine, Henry Jaglom, Peter Jason.
Com certeza o fã de cinema já ouviu falar muitas e inúmeras vezes sobre as peripécias do grande Orson Welles, que cercado por alguns fiéis amigos insistia em fazer uns últimos filmes autobiográficos que serviriam de despedida para sua carreira. Prepare-se para uma decepção. Aquele grande cineasta não estava mais em forma e se diverte fazendo cenas picadas, brincadeiras de gosto duvidoso e ao que parece um dinheiro que ele não tinha (este filme foi produzido por um milionário príncipe árabe e por isso passou esses anos todos escondido e disputado). Uma pena: melhor seria se tivesse ficado no mundo da lenda. A cópia que eu vi tem problemas com a qualidade, muitas vezes fora de foco e não passa de uma brincadeira entre fiéis amigos que tentam se divertir ajudando o velho amigo numa sucessão de brincadeiras. Welles não aparece e no lugar dele esta outra lenda, John Huston e outro muito auxiliado pelo velho (embora ainda fosse jovem então Bognadovich). Os cortes são rápidos como se tivessem vergonha de exibi-los, um monte de gritaria dando ordens para os amigos atores que estariam fazendo justamente uma conturbada filmagem (entre os que se conhecem mais, todos já falecidos, estão Cameron Mitchell, Edmond O´Brien, a premiada Mercedes McCambridge, uma das poucas que se leva a sério, Paul Stewart, fora alguns poucos figurantes). O mais esquisito de tudo é que o filme foi co produzido pela então mulher de Welles, que é a Oja Kodar (aqui ela é meio perseguida por um rapazinho jovem e loiro, que também nada tem a ver. Enquanto isso ela fica nua se exibindo a toa). Lamento decepcionar, mas desta vez a gente fica terrivelmente decepcionado com o gênio do cinema que não dava mais certo (Já tinha tido uma experiência semelhante anos antes em Cannes, quando exibiram logo depois de sua morte, o que havia de material mais ou menos editado, na sua versão inacabada de Don Quixote. Completamente amador este então é melhor evitar ser mostrado). É mais ou menos o caso deste filme tão badalado (há uma certa mancha de humor mas nem isso funciona). Uma amarga desilusão...
Apoio: NET TV
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.