RESENHA CRTICA: Com Amor, Simon (Love, Simon)
Talvez ele no tenha feito um filme perfeito para o tema, mas me passou como muito positivo, bem intencionado, por vezes muito engraado, noutras romntico
Com Amor, Simon (Love, Simon)
EUA, 2018. 1h50min. Direção de Greg Berlanti. Roteiro de Elizabeth Berger, Isaac Apktaker, e o autor do livro original, Becky Albertalli, autor do livro chamado Simon Vs. The Homo Sapiens Agenda. Com Nick Robinson, Jennifer Garner, Josh Duhamel, Katharine Langford, Alexandra Shipp, Logan Miller, Keiynan Lonsdale, Jorge Lendeborg Jr, Talitha Eliana Bateman, Tony Hale, Natasha Rothwell.
Na véspera de sua estréia oficial, Com Amor Simon teve uma platéia jovem e participante, que parece ter gostado muito do filme, uma comédia sobre adolescentes que tem sido promovida como o primeiro filme estrelado por um jovem personagem gay que foi produzido por um grande estúdio de Hollywood, no caso numa subsidiaria da Fox. Foi baseado num livro sobre o tema e promovido por gente de cinema (que se deram ao trabalho de comprar ingressos e oferecê-los grátis para estimular os jovens a assisti-lo). A parte triste, porém, é que o filme nos EUA não foi tão bem como se esperava. Rodado em Atlanta, Georgia, na sua segunda semana rendeu até agora não mais de 25 milhões que na fase atual não é pouco, mas também não é muito. Mesmo hoje há um artigo no New York Times de um gay assumido que reclama de que não há gays mulheres na historia e reclama de certos detalhes (tais como o herói ser discreto, não ajudar os outros gays, mas não toca no assunto de que ele tem a sorte de não ter uma família preconceituosa - no caso, os pais são compreensivos e ótimos, mas tem uma participação pequena na história apesar de serem os únicos conhecidos do elenco, Josh Duhamel e Jennifer Garner). Além disso, tem a sorte de não serem vítimas de grupos religiosos ou fanáticos e mesmo a High School é liberal o suficiente para defender o herói, que não tem nada de efeminado ou exagerado (mas tem um outro na escola, negro que apesar de sofrer as perseguições é também aceito desde que seja caricato!). Mesmo a escolha do ator protagonista é cuidadosa, porque nem dançar direito ele sabe (embora faça parte da montagem colegial de Cabaret). O rapaz Nick Robinson (1995- ) fez trabalhos como o último Jurassic World, mas nada de muito sugestivo. Na verdade, sua aparência neutra pode ter ajudado o filme já que a trama mais forte da história é começar com ele já se achando gay, sem grandes explicações a não ser se interessar pelo Harry Potter. Simon já parece bem resolvido, mas tem problemas quando se interessa por uma figura desconhecida que se assina Blue e instantaneamente se apaixona pela misteriosa figura. Mas é desleixado nisso, porque acaba sendo vítima de um colega que faz chantagem com ele, obrigando-o a apresentar uma colega por quem tem atração, participar de festa, fazer declaração de amor numa festa escolar (o que é absolutamente absurdo!) além de ser um autentico “mau caráter”!
Mas como tudo é tratado como comédia, o filme funciona muito melhor do que se podia esperar. Difícil não simpatizar com o infeliz herói. E a grande sacada do roteiro é justamente não deixar o público saber quem é exatamente Blue, oferecendo pelo menos 3 opções! E quando se revela já bem no final a plateia (no caso mais feminina) reage torcendo e feliz. Não vou fazer Spoiler, mas esse jogo ajuda o filme que se esforça em fazer humor (por exemplo com um compreensivo e divertido funcionário da High School - que é Tony Hale, que você vai reconhecer pela aparência).
O diretor Greg Berlanti é conhecido como roteirista e produtor (Flash, Arrow, Supergirl, Titans, Riverdale etc.) principalmente de séries de TV como Dawson´s Creek, Brothers and Sister, Eli Stone, Everwood. Também dirigiu alguns longas, como este que fala de relacionamentos gays O Clube dos Corações Partidos, 2000, além de Juntos pelo Acaso, 2010 com Katherine Heigl e Josh Duhamel.
Talvez ele não tenha feito um filme perfeito para o tema, mas me passou como muito positivo, bem intencionado, por vezes muito engraçado, noutras romântico. Talvez não seja mesmo o trabalho definitivo sobre o tema, mas é um passo a frente e a reação dos jovens parece confirmar isso.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.