Dia dos Namorados: Love Story no Cinema
Filmes menos pretensiosos, voltados para as relações humanas sempre tiveram espaço, maior ou menor, nas telas
Apaixonados separados pela tragédia, pelo acaso ou pela mera incompatibilidade. Um acidente, por exemplo, separa um casal apaixonado como Cary Grant & Deborah Kerr em Tarde Demais para Esquecer (An Affair to Remember) de 1957 ou em tempos mais recentes Rachel McAddams & Channing Tatum em Para Sempre (The Vow) de 2011. Melodramas têm seu público fiel, embora considerado essencialmente feminino dado seu caráter sentimental acentuado em enredos chamados pejorativamente de “água com açúcar”. Com a estreia de A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars) e – em breve – a refilmagem de” (Endless Love) próximo ao dia dos namorados, as telas podem transbordar de lágrimas, bem apropriado para a data e para que lembremos que há muito mais no cinema que apenas blockbusters. Filmes menos pretensiosos, voltados para as relações humanas sempre tiveram espaço, maior ou menor, nas telas. Relembremos alguns deles:
Se uma canção marcante é essencial para o alcance de um romance, então Nosso Amor de Ontem (The Way We Were) de 1973 merece figurar primeiro em nossa lista. A música de Marvin Hamlich, que dá título ao filme, foi escolhida como 8ª entre as 100 melhores canções do cinema pelo AFI (American Film Institute), e Oscar de melhor canção na voz de Barbra Streisand , intérprete de Katie Morosky, ativista no período do pós guerra que encontra Hubbel Gardner (Redford), um antigo amor dos tempos de universidade e aspirante a escritor que tenta achar seu lugar ao sol como roteirista em Hollywood. Um dos primeiros filmes a retratar a caçada McCarthista, o filme fala da dificuldade de conciliar ideologias opostas que fazem amantes trocarem os sorrisos pelas lágrimas, tornando-os nada além de lembranças do que uma vez foram. Excelente filme graças à presença do casal Redford-Streisand dirigidos pelo hábil Sidney Pollack.
Sabe aquela trilha sonora que uma vez ouvida não sai mais da cabeça. Assim é a composição de Francis Lai para Love Story - História de Amor” (Love Story) de 1970, dirigido por Arthur Hiller com roteiro de Erich Segal. Este escreveu a história como roteiro de cinema, mas antes do lançamento do filme, publicou sua versão adaptada que se tornou um Best-seller. A história trazia Ryan O’Neal (então com 29 anos) e Ali MacCraw (então com 31 anos) como um jovem casal que enfrenta a diferença de classes sociais opostas. Apesar da pressão do pai de Oliver (O’Neal) vivido pelo veterano Ray Milland, o calvário vivido pelo casal é quando Jenny (MacGraw) descobre estar com leucemia. A popularidade do filme fez história e lhe deu o status de “filme de mulher” com sentimentalismo exacerbado e final lacrimoso que para muitos o torna por demais “piegas”. O sucesso de bilheteria gerou a sequência A História de Oliver (Oliver’s Story) em 1978, que claro traz a citada trilha que, apesar de ter seus admiradores e detratores, embalou muitos namoros na década de 70.
Quase dez anos depois de Love Story, os adolescentes do início dos anos 80 tiveram Amor Sem Fim (Endless Love) de 1981, uma releitura de Romeo & Julieta estrelada pela então ninfeta Brooke Shields (então com 16 anos) e o inexpressivo Martin Hewitt. Na história, dois jovens se apaixonam e têm sua primeira noite de amor para o desagrado do pai dela que proíbe o namoro. O rapaz toma atitudes extremistas para ver a amada e acaba inadvertidamente provocando um acidente que o levará para uma clínica psiquiátrica, afastando-o dela e traçando um caminho trágico para o casal. Na época, a trilha sonora do filme imortalizou a canção, de mesmo nome, (Endless Love) cantada por Lionel Ritchie em dueto com Diana Ross, muito difundida nas rádios e campeã de pedidos nos programas estilo “Good Times”. O filme tomou proveito da figura de Brooke Shields então recém saída de filmes como A Lagoa Azul e Pretty Baby. Amor Sem Fim foi refilmado para relançamento em pelo dia dos namorados, mas dificilmente terá hoje o mesmo alcance de seu original. A propósito, o filme original foi a estreia nas telas de Tom Cruise, em papel menor e na época com 19 anos.
Inspirado na vida da jornalista Jessica Savitch que se tornou a primeira âncora de telejornal mulher nos anos 70, e que morreu em trágico acidente automobilístico. O amor maduro entre a repórter iniciante Sally Atwater (Michelle Pfeiffer) e o veterano jornalista Warren Justice (Robert Redford) ao som da bela voz de Celine Dion cantando “Because you Loved Me”. Íntimo & Pessoal (Upclose & Personal), de Jon Avnet, foi um dos melhores do gênero nos anos 90. A principio insegura e inexperiente, a personagem de Pfeiffer cresce como profissional e como mulher a medida que a carreira de Warren decresce. Este se torna seu mentor e seu amante e a ideia de que a carreira de um vem inversamente proporcional ao do outro, mas ambos dividindo um mesmo sentimento dá o tom da canção tema de Celine Dion: Quando eu fui fraca, você me fez forte, você foi meus olhos quando eu não podia ver ...”. A maturidade do casal, pra lá de 20, e a química entre Redford e Pfeiffer destaca o filme do lugar comum do gênero e o torna interessante.
Muito bem sucedido junto ao público feminino na época de seu lançamento, principalmente devido ao sex-appeal de Brad Pitt, Lendas da Paixão (Legends of the Fall) de 1994 mostra o amor do rebelde Tristan (Pitt) e a bela Susannah (Julia Ormand), pivô das desavenças de três irmãos interpretados por Pitt – o irmão do meio, Aidan Quinn – o mais velho e Henry Thomas – o mais novo e que vem a ser o noivo de Susannah. O filme, baseado no romance de Jim Harrisson, trata das relações familiares, outro tema comum aos melodramas. Estas são abaladas pelas adversidades advindas dos interesses românticos, da guerra e de outros conflitos familiares que impulsionam a narrativa. Cabe ao patriarca da família vivido por Anthony Hopkins conciliar as diferenças. O filme recebeu indicações ao Oscar®, ganhando o de melhor fotografia. Nada como um belo cenário para emoldurar tantos conflitos e o filme traz as Montanhas Rochosas do início do século XX. O projeto, que veio a ser dirigido por Edward Zwick, demorou 17 anos para ser filmado e quase teve Johnny Depp como Tristan. Também quase envolvidos estiveram Sean Connery e Tom Cruise.
Fato histórico como pano de fundo para um romance é a receita do mega sucesso Titanic de James Cameron. Lançado em 1998, este foi um projeto desacreditado por muitos na época dada a proporção da produção que fez calar seus detratores ganhando 11 Oscars® (dividindo então o recorde com Ben Hur), tornando-se um sucesso fabuloso de bilheteria ao arrastar milhares de pessoas para testemunhar o triunfo técnico de recriar o naufrágio do RMS Titanic em abril de 1912, em plena viagem inaugural. O romance entre o plebeu Jack Dwason (Leonardo diCaprio) e a aristocrática Rose (Kate Winslet) embalados pela hipnotizante trilha sonora coroada com a voz de Celine Dion cantando “My Heart Will Go On” ainda faz parte do imaginário popular dos românticos. No filme nem a diferença de classes nem a fatalidade do destino separa para a eternidade os amantes, mesmo que um tenha que se sacrificar para a sobrevivência do outro. “Se você pular, eu pulo” diz Dawson para a desiludida Rose quando ambos se conhecem no início da viagem que levará todos a constatar que a culpa, de fato, é das estrelas.