O austríaco Ludwig Wittgenstein é o grande teórico do pensamento desde o prussiano Immanuel Kant. Seu Tractatus lógico-philosophicus (Logish-philosofische Abhandlung; 1921) propõe uma série de aforismos que são estabelecimentos do funcionamento das ideias no mundo dos homens. Como o próprio autor observa lá pelo introito, não se trata dum manual, ou dum guia. É uma abertura, ou um descortinar, para o mundo perplexo da mente: longe da biologia, nas cercanias da filosofia. “Nada é acidental na lógica: se uma coisa puder aparecer num estado de coisas, a possibilidade de estado de coisas já deve estar antecipada nela.” “O que é pensável é também possível.”  As circunvoluções das formas de pensar de Wittgenstein propõem excentricidades particulares (uma estranha e complicada fórmula matemática induz à definição duma equação simples, 2+2=4) e se aproximam às vezes do niilismo da meditação. “Todas as proposições da lógica dizem, porém, o mesmo; a saber, nada.” E acaba por desmontar a inteireza de raciocinar, dando tudo por falsas questões. “Este modo de mostrar que suas proposições são tautologias é, sem dúvida, para a lógica, inteiramente inessencial. Exatamente porque as proposições de que parte a prova já devem mostrar, sem prova, que são tautologias.” E Tractatus lógico-philosophicus é também, em suas abstrações, agnóstico e cético: “A imortalidade temporal da alma humana, a saber, seu continuar a viver eternamente ainda depois da morte, não está de maneira alguma assegurada”.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)