Um Genio Para Poucos
Nao sao romances facilmente digeriveis os escritos com avidez linguistica por Lobo Antunes
Com O meu nome é Legião (2007) o romancista português António Lobo Antunes confirma sua radicalização de escrever que ele vem concretizando em volumosas obras-primas ao longo das décadas. Ao deslocar seu centro reflexivo para um perigoso e violento mundo da periferia urbana contemporânea, Lobo Antunes permanece dono de uma linguagem soberba e intocável, nunca se refugiando na pequenez popularesca a que em outros o tema convidaria; ele arrasta seus seres numa grande tragédia de consciência que é pura linguagem e portanto metáfora do real, coisa que ele faz com extrema criatividade.
Uma das características que ele exacerba em O meu nome é Legião é o entrecruzamento complexo de vozes narrativas, que ele adensa mais e mais. A voz do policial, a voz dos delinquentes menores, as vozes dos amigos e parentes dos protagonistas criminosos. O fundo policial do romance não leva a uma trama policial: é antes um exercício metafísico da linguagem, uma formulação estilística do mundo.
Não são romances facilmente digeríveis os escritos com avidez linguística por Lobo Antunes. Mas estão entre os mais notáveis da atualidade em qualquer língua.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br