Os Artificios de Kubrick no Mundo do Cinema

Extraido da literatura do austriaco Arthur Schnitzler, o filme de Kubrick transporta a acao original da Viena do seculo XIX para a Nova Iorque

13/12/2024 03:22 Por Eron Duarte Fagundes
Os Artificios de Kubrick no Mundo do Cinema

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Em seu derradeiro filme, De olhos bem fechados (Eyes wide shut; 1999), o americano Stanley Kubrick faz uma narrativa cuja base da linguagem são duas estrelas do sistema de Hollywood, Tom Cruise e Nicole Kidman, e o lado sentimental das personagens. As concessões de gênero não chegam a ser inusitadas no cinema de Kubrick: o emocional em Lolita (1962), o subterror em O iluminado (1980). Mas o Kubrick mais badalado é o que trata da estupidez humana em dramas bélicos (Glória feita de sangue, 1957; Nascido para matar, 1987), o investigador dos destinos do homem (2001, uma odisseia no espaço, 1968), o visionário da ultraviolência futurista (Laranja mecânica, 1971) ou os refinamentos plásticos na história (Barry Lyndon, 1975). Causou uma certa espécie, no fim do milênio, a redução testamentária de um cineasta como Kubrick em De olhos bem fechados.

Extraído da literatura do austríaco Arthur Schnitzler, o filme de Kubrick transporta a ação original da Viena do século XIX para a Nova Iorque dos ambíguos anos 90. Mas é uma Nova Iorque artificiosa: morando em Londres, consumido por seu medo de entrar num avião, Kubrick obrigou seus produtores a financiarem a reconstrução dos cenários nova-iorquinos num estúdio londrino. Kubrick, genioso em sua maneira de fazer cinema, exacerba em seu artificialismo formal. É este artifício, profundamente plástico nas mãos do realizador, que transforma a trivialidade das relações sentimentais da personagem central, o Dr. Bill Harford, em algo diferente, por exemplo, das mesmas situações sob o sueco Ingmar Bergman, para citar um homem de cinema contemporâneo de Kubrick e também tido como um dos picos a que podia chegar a sétima arte nos anos 70 e 80. Navegando por tensões eróticas da criatura de Cruise com sua esposa e outras mulheres (inclusive uma não-consumada relação com uma prostituta que vem a saber depois é diagnosticada com HIV), sonhos estranhos da mulher de Bill, sociedades secretas mascaradas, De olhos bem fechados vai pouco a pouco alterando as evidências do resumo duma carreira cinematográfica que se deparava no cinema. É o estilo de Kubrick que dá amplitude a esta obra aparentemente menor em sua filmografia.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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