A Hora e a Vez de Augusto Matraga

Uma refilmagem que me surpreendeu e encantou e que merecia ser descoberta e mais consagrada

07/10/2015 12:52 Da Redação
A Hora e a Vez de Augusto Matraga

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A Hora e a Vez de Augusto Matraga

Brasil, 11-15. 110 min. Direção de Vinicius Coimbra. Roteiro de Coimbra e Manuela Dias baseado em conto de Guimarães Rosa de Sagarana. Com João Miguel, Jose Wilker, José Dumont, Julio Andrade, Chico Anysio, Vanessa Gerbelli, Werner Schunemann, Teca Pereira, Gorette Milagres, Irandir Santos.

Para nós que vimos sua estreia em 1966, se tornou inesquecível e obra-prima a versão de A Hora e a vez de Augusto Matraga dirigida por Roberto Santos, premiado no Primeiro Festival de Brasília e que atualmente está sendo restaurado pela Cinemateca Brasileira. Estrelado pelo grande ator Leonardo Vilar (ainda vivo), Jofre Soares, Mauricio do Valle, nunca me saiu da cabeça nem da lista dos melhores filmes nacionais que já assisti, nem da admiração que sempre tive pelo diretor. Só agora ao escrever que percebo que existe um cópia dele, maltratada, no You Tube (onde logo de cara se percebe a excepcional trilha musical de Geraldo Vandré!).

De qualquer forma, esta refilmagem sempre teve problemas de falta de sorte, tendo ganhado o Festival do Rio de Janeiro em 2012, de melhor filme pelo público e júri, além de ator (João Miguel), coadjuvante (José Wilker, que está excepcional na melhor interpretação desta fase!) e um prêmio especial do júri para Chico Anysio (que sempre foi ótimo ator mas foi pouco aproveitado pelo cinema). Só que foi impedido de ser lançado pela já lendária oposição da família do escritor Rosa, que há muitos anos dificulta a divulgação de sua obra. Isso explica então porque só agora passou nos cinemas sem ter tempo de ser divulgado e provocando comparações desnecessárias.Besteira discutir quem é o melhor, ainda mais quando há mais de 50 anos, tínhamos os olhos virgens e sabíamos melhor nos encantar com um filme brasileiro de tanta força. Mas eu gostei do trabalho do diretor Vinicius que teve longa carreira como diretor na televisão, fez ainda o Love Film Festival (14) de que não tive noticia e agora apresentou no Rio A Floresta Que se Move.

Pois ele fez um belo trabalho neste remake rodado totalmente em locações, com bela fotografia, um elenco impecável (alguns que depois ficaram mais famosos como Irandhir e Julio Andrade) e uma trilha musical que ele foi buscar nos arquivos de Antonio Carlos Jobim (eu particularmente gosto muito, ainda que por momentos provoque certo desassossego). O bom ator João Miguel faz o protagonista Matraga, violento e cruel, que ao chegar as portas da morte perde tudo e recomeça temente a Deus, embora sem conseguir renegar a atração pelo perigo e mesmo a Morte. Na parte final, entre Wilker como Joãozinho Bem Bem, num momento inesquecível que já vale o filme. É verdade que em algumas cenas de conflito armado Vinicius não é um Sam Peckinpah, mas ninguém é. Portanto nada de demérito para um filme que me surpreendeu e encantou e que merecia ser descoberto e mais consagrado.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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