Na Netflix: Anne (Anne with an E)
Os ingleses não perdem a mão e continuam mestres na realização de minisséries de livros famosos
Anne (Anne with an E)
Inglaterra, 17. Netflix, 7 episódios. Direção de Niki Caro. Com Amybeth McNulty, Geraldine James, R. H. Thomson, Dalila Bela, Corrine Koslo. Adaptação em minissérie do livro Anne of Green Gables, de L.M. Montgomery.
Os ingleses não perdem a mão e continuam mestres na realização de minisséries de livros famosos, em especial os indicados para crianças de uma certa idade, em especial meninas. Este Anne Shirley (em português) é um romance da escritora canadense L.M. Montgomery, publicado em 1908. Que foi lançado como livro infantil, já que sua história narra as aventuras de uma menina órfã (Ana dos Cabelos Ruivos era o título em Portugal) enviada por engano para uma fazenda modesta em Avonlea na Ilha do Príncipe Eduardo. Lá “Anne com E” conhece os irmãos de meia idade, Matthew e Marilla Cuthberth, que na verdade esperavam um garoto que mais facilmente poderiam ajudá-los. Resolvem mesmo mandá-la de volta para o asilo, mas aos poucos vão se acostumando com a garota e sua incrível alegria.
Desde sua publicação, Anne of Green Gables já vendeu mais de cinquenta milhões de cópias e foi traduzido para 20 línguas. Depois da morte de autora, em 1942, foram escritas continuações numerosas e houve também adaptações para o cinema, televisão, desenhos animados, peças e musicais. Montgomery inspirou-se em anotações que tinha feito quando jovem, sobre um casal que recebeu uma garota órfã em vez do menino que tinham pedido, mas que ainda assim haviam decidido ficar com ela, e em suas próprias experiências de infância na Ilha do Príncipe Marilla e Matthew Cuthbert, irmãos solteiros que vivem na fictícia comunidade de Avonlea na Ilha do Príncipe Eduardo, decidem adotar um menino para ajudá-los com a fazenda de Green Gables. Por causa de um mal-entendido, a órfã Anne Shirley é mandada, após ter passado a infância em orfanatos e casas de estranhos. Anne é descrita como esperta, extrovertida, e muito imaginativa. Inicialmente, não quero estragar as outras aventuras da menina, que é uma atriz muito eficiente, não exatamente bonita. Mas como já elogiei os britânicos, tudo é encantador e romântico: a paisagem com vales e flores, a trilha musical delicada, as outras crianças que entram na história. Tenho certeza que muita criança e adulto irá chorar.
Mas há uma história de cinema que eu queria compartilhar com vocês. Hollywood fez filmes, claro, do livro. Foi em 1934, como Anne of the Green Gables e o título no Brasil foi Venus em Flor, com Tom Brown e uma garota que se chamava Dawn Paris ou Dawn O´Day, mas mudou o nome para o da protagonista, Anne Shirley. E foi assim que ficou famosa (1918-93) tendo uma longa carreira em 69 créditos e chegou a ser indicada ao Oscar de coadjuvante pelo filme Stella Dallas, a Mãe Redentora (1938). Em 1940 fez uma continuação chamada Paraíso de Ilusões (Anne of the Windy Poplars), com James Ellison quando a heroína se torna professora. Sua carreira poderia ter sido ainda mais longa caso não tivesse largado a carreira aos 26 anos.
A província da Ilha do Principe Eduardo possui instalações turísticas e o turismo movido pelos fãs de Anne é uma parte importante da economia da região. A fazenda Green Gables realmente existe e está localizada em Cavendish, uma área rural do condado de Queens County, no centro da Ilha do Príncipe Eduardo. Muitas atrações turísticas na Ilha foram desenvolvidas com base em Anne, e, no passado, placas rurais já mostraram a sua imagem. Balsam Hollow, a floresta que inspirou Haunted Woods, e Campbell Pond, a massa de água que inspirou o Lago de Shining Waters, ambos descritos no livro, estão localizados nas proximidades. Além disso, o centro cultural canadense tem apresentado o musical Anne of Green Gables em seu palco principal em cada verão nos últimos 48 anos.
O romance também tornou-se extremamente popular no Japão onde Anne Shirley é reverenciada como um "ícone". Casais japoneses viajam para a Ilha do Príncipe Eduardo para terem cerimônias de casamento no terreno da fazenda Green Gables. Algumas meninas japonesas, inclusive, chegam com o cabelo trançado e tingido de vermelho, de forma a se parecerem com Anne.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.